São Paulo, quinta-feira, 4 de abril de 1996
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A pausa que refresca

MOACYR SCLIAR
"E DISSE O SENHOR A MOISÉS NO EGITO:

'Durante sete dias comereis pães sem fermento. Já no primeiro dia fareis desaparecer o fermento de vossas casas. Podereis preparar-vos somente a comida que cada um comerá'.
E os israelitas saíram, levando a massa do pão ázimo e as fôrmas. E começaram a sua marcha pelo deserto. Caminharam três dias sem achar água. Por fim encontraram um lugar onde havia água, mas esta era amarga, por isso lhe deram o nome de Mara.
E o povo murmurava contra Moisés, dizendo: 'O que vamos beber?' Moisés clamou ao Senhor, e este lhe indicou certa planta que, jogada na água, tornou-a boa para beber.
Todos ficaram contentes, menos um. E este um dizia: 'Que graça tem em tomar água? Ainda mais com pão ázimo? Porventura haverá saco, mesmo preto, que aguente? Assim não dá, gente, assim não dá'.
E Moisés foi ter com o descontente e perguntou-lhe: 'O que tens contra a água?'
E o descontente respondeu-lhe: 'Nada tenho contra a água, mas existe coisa melhor'.
E Moisés perguntou: 'Como sabes que existe coisa melhor?'
E o homem respondeu: 'Porque tive uma visão do futuro. Eu olhava uma caixa mágica, chamada televisão, e nela eu via recomendarem uma bebida chamada Coca-Cola. Coca-Cola é a pausa que refresca. Nenhuma sede resiste a Coca-Cola, nem mesmo a sede do deserto'.
E Moisés, desconfiado, perguntou: 'Mas essa tal de Coca-Cola é kasher? É permitida pela lei?'
E o homem respondeu: 'Se não é kasher, a gente mexe na fórmula'.
E Moisés concordou, e no dia seguinte o homem apareceu com um grande carregamento de Coca-Cola, e todos deixaram de tomar água e foram direto para o novo refrigerante. E Moisés não podia dizer nada, porque a Coca-Cola era kasher, e, além disso, tinha uma versão diet, com baixas calorias. O produto era abundantemente apregoado em vários outdoors que imediatamente surgiram no deserto, balizando o caminho para a Terra Prometida.
Quando viu aquilo, Moisés comentou com Aarão, seu fiel companheiro: 'Só falta agora alguém ter uma visão de um produto similar e pedir que seja incluído na bagagem dos peregrinos'.
Aarão não disse nada. Mas pensou que 'Pepsi-Cola' seria um bom nome. A ser lançado no momento oportuno, claro."

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