São Paulo, sexta-feira, 5 de abril de 1996
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O ocaso das empreiteiras

LUÍS NASSIF

No dia 13 de janeiro de 1993, a coluna abordou a questão das empreiteiras e dos ciclos políticos da República.
Mencionou as empreiteiras da Revolução -as Andrade Gutierrez, OAS, Mendes Júnior, Camargo Corrêa, C.R. Almeida, Norberto Odebrecht- e previu o seguinte: "Muita gente pode não saber ainda -principalmente alguns governadores de Estado-, mas as empreiteiras da Revolução estão mortas. Conseguiram a sobrevida que pediram a Deus com os governos Sarney e Collor. Agora, é questão de tempo para que sejam enterradas.
"Algumas ainda não se deram conta disso. Outras vêm se preparando há anos para este momento, investindo em diversificação tanto setorial quanto nacional.
"Resta saber quem serão os candidatos ao novo ciclo, que, desta vez, terá variável desconhecida dos ciclos anteriores: imprensa livre e vigilante".
Houve agitação considerável no meio. Vários desses empreiteiros procuraram a coluna, tentando demonstrar que sobreviveriam.
Com exceção de um, mantiveram conversas de alto nível, tentando provar que seu lado empresarial era maior do que seu lado negro e que, passado o terremoto, sua competência técnica permitiria a sobrevida.
No fundo, tentavam convencer a si próprios.
Três anos depois, a situação ficou assim:
1) A Odebrecht e a Andrade Gutierrez sobrevivem porque lograram colocar uma perna no exterior. Mas precisam batalhar arduamente, porque lá as margens são civilizadas. Sua operação interna está tendendo a muito pouco.
2) A OAS se desmontou. Na fase áurea, montou uma estrutura descentralizada, permitindo a cada unidade negociar livremente com administradores públicos.
Sem dispor de uma cultura solidificada como a Odebrecht, perdeu o controle da operação, sem ter tido tempo de pular para outro barco. A sociedade está se desfazendo e seu último amigo parece ser o prefeito paulista Paulo Maluf.
3) A Mendes Júnior e a C.R. Almeida estão praticamente desativadas.
4) A Camargo Corrêa diminui a cada ano sua parte empreiteira em favor da parte holding.
Bode expiatório Fábio Giambiagi, do BNDES, é um daqueles economistas especializados em pedreiras. Entre elas, análise do Orçamento público.
Minucioso, imaginoso, Giambiagi padece de apenas um mal: um vezo de permanentemente incluir repasses a Estados como uma das causas do déficit da União.
Repasses representam proporção da arrecadação direta da União. Se se repassa mais, é porque se arrecadou mais.
Se, mesmo arrecadando mais, houve déficit, a culpa não é dos repasses, mas de outras despesas. Mesmo porque, nos últimos anos, por conta do chamado Fundo Social de Emergência, o percentual do FPE foi alterado para baixo.

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