São Paulo, sexta-feira, 5 de abril de 1996
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A EUTANÁSIA

Os rápidos avanços verificados no campo da medicina estão aos poucos alterando os milenares padrões éticos da arte de Hipócrates. Faz parte do juramento do pai da medicina a promessa de jamais, por motivo algum, tirar a vida do paciente.
Se isso era compreensível na Grécia Antiga e mesmo até poucas décadas atrás, hoje torna-se cada vez mais discutível. Há pouco a Holanda baixou uma legislação considerada bastante liberal acerca da eutanásia (termo que em grego significa literalmente "boa morte"). Esta semana, um tribunal federal de Nova York autorizou médicos desse Estado, de Vermont e de Connecticut a prescrever drogas que acelerem a morte de pacientes terminais que queiram morrer e estejam lúcidos.
Se até há pouco entrar em estado de coma muitas vezes significava a morte pelo comprometimento das funções cerebrais que coordenam o funcionamento de órgãos vitais, hoje aparelhos podem sustentar a vida do paciente por anos e anos a fio. Se até há pouco um diagnóstico de câncer significava uma sentença de morte mais ou menos rápida, hoje terapias podem prolongar a vida do doente, mesmo que padeça de dores atrozes suportáveis apenas com o uso de altas doses de morfina.
Até que ponto o médico deve preservar a vida do paciente? Agir deliberadamente para matá-lo é uma atitude ética? Na impossibilidade de comunicação entre doente e médico, a família tem o direito de decidir se ele vai viver ou morrer? E se esse paciente não tiver familiares? Será o Estado que vai decidir a sua sorte?
Essas são apenas algumas das novas questões que os avanços no campo da medicina começam a suscitar. No Primeiro Mundo, o debate já está instalado, e muitos países já estão modernizando suas legislações. No Brasil, a situação da saúde é tão precária que é o acaso e não a vontade quem escolhe aqueles que vão sobreviver e aqueles que vão morrer.

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