São Paulo, sexta-feira, 5 de abril de 1996
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Semana do bom mistério

JOSÉ SARNEY

Oitenta por cento de todo o conhecimento científico acumulado pelo homem através de sua história, desde seu aparecimento na face da terra, ocorreu no século 20.
Nas últimas décadas encurtamos cada vez mais os tempos das descobertas. E quando pensamos saber de todas as coisas, multiplicam-se para um infinito cada vez mais distante as coisas a saber.
A visão materialista e existencial fazem a vulnerabilidade das pessoas. Elas passam a acreditar que aqui começa e acaba tudo. E, ao desvendar o mistério de tudo, se afastam do maior de todos os mistérios, que é o mistério de Deus.
Deus está no universo. Nossa forma de pensar não foi feita para saber do seu mistério. Sabemos apenas que aqui, neste planeta azul, onde Ele nos fez habitar, a Terra, ele enviou seu "filho" para assumir a condição humana e nos ensinar como devemos utilizar a liberdade que nos deu, inclusive não se revelando, para encontrar o caminho da verdadeira libertação.
Com a sua vinda, não estamos sós. Ele está conosco. Cercou o seu gesto de um profundo amor pelos homens; como diz s. João: "Amou os homens até o fim", fazendo com que Ele surgisse na pessoa simples e humilde, na casa de um operário de Belém.
Esse homem, Cristo, nunca escreveu nada e o maior livro de todos os tempos, que mudou a humanidade, é de sua autoria: o Evangelho. Obra que, sendo singular, é plural. São quatro e são um.
Renan dizia que eles podiam ser condensados numa página de papel e ali constar uma síntese do maior e mais completo código moral e revelador.
Ser cristão é muito difícil. Mas Cristo ensinou como era fácil. Os deuses da Antiguidade eram olímpicos e nenhum vínculo possuíam com os homens.
Eram os deuses das tempestades, dos destinos, dos raios, dos mares e dos ventos. Eram tantos e distribuíam terror e intimidação desde o princípio dos tempos.
Qual a grande transformação do cristianismo? Foi a lição do Cristo, que derrubou impérios e mudou a história do mundo: "Deus é pai". Não é o Deus dos exércitos, nem o vingador e perseguidor. Não, Ele é pai. A noção de pai criou a verdade de que todos somos irmãos.
Não há senhores e escravos, todos somos irmãos, todos somos filhos de Deus. Todos devemos amar uns aos outros, perdoar, cultivar a humildade.
Lembro nesta semana o Deus da minha infância que me guardou das assombrações, o Deus da minha juventude que me salvou das dúvidas da fé, o Deus da minha maturidade que colocou a sua mão no meu destino, o Deus da minha velhice que um dia me receberá.
Esse o mistério da Semana Santa. São Cipriano dizia que viu o demônio. Pois eu tive a felicidade de ver Deus, nessa Cruz onde está pregado esse homem que veio nos ensinar o caminho de ser cristão.
Tenho pena de quem me diz que não acredita em Deus. Esse jamais saberá o quanto de graça tem a virtude de ter fé e o caminho de viver em paz, sendo cristão, sem esquecer a lição de s. Paulo "sem ressurreição não há cristianismo".

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