São Paulo, sábado, 6 de abril de 1996
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O talento brasileiro que seduz Galliano

JONI ANDERSON
FREE LANCE PARA A FOLHA

Um jovem talento paulistano está trilhando rapidamente os mesmos passos da carreira de Ocimar Versolato, o estilista brasileiro de maior prestígio no cenário fashion internacional.
Sérgio Machado, 31, ex-advogado embarcou acidentalmente no estilismo. Em pouco tempo tornou-se um dos integrantes da lista de estilistas brasileiros que saíram do Brasil para estudar no exterior, trabalhar junto a grandes nomes da moda, adquirir experiência e montar o seu próprio negócio.
Formado em direito pela PUC, Machado trocou primeiro as leis pelo gerenciamento de vôos da Air France, profissão que lhe permitia viagens constantes à Europa e um bom saldo bancário no fim do mês. Depois, foi a vez de descobrir a aptidão para a moda e começar um currículo suis generis.
Em 94, ainda em São Paulo, participou do Smirnoff Fashion Awards,concurso para estilistas amadores, "por acaso".
O vestido em organza com placas de cobre ganhou o primeiro lugar na etapa nacional e rendeu o primeiro contato com o estilista inglês Abe Hamilton, um dos jurados do evento.
Na final mundial, realizada em Dublin, na Irlanda, Machado conseguiu a segunda colocação. Ao passar por Londres, foi até o ateliê de Hamilton: "Eu não sabia nem pregar um botão. Havia uma lacuna que só poderia ser preenchida com uma base mais acadêmica.
Queria ver de perto como tudo funcionava, como era trabalhar com os mitos", diz. A curiosidade rendeu-lhe um estágio de seis meses em Londres.
Um semestre após aprender os primeiros passos com Hamilton, foi a vez de Vivienne Westwood abrir às portas para o seu trabalho.
E meio ano depois, John Galliano. "Não foi nem está sendo fácil. Tudo é muito complicado, as pessoas são super vaidosas e os estilistas se consideram as estrelas que são. É preciso muita humildade, o que ajuda é o jogo de cintura do brasileiro. Nós somos flexíveis, nos adaptamos facilmente", diz.
Numa passagem para visitar parentes em São Paulo, Machado aproveitou para conhecer um pouco mais da moda brasileira.
"Estamos num estágio tão internacional, que aqui temos uma influência de todo o lugar do mundo. A européia não quer estar sempre discreta. Ela também quer ser sexy como a brasileira. E esta é uma troca possível de ser feita", arrisca.
Com pouco tempo disponível e ainda sem patrocínio, Machado abriu mão de apresentar uma coleção de estréia no Phytoervas Fashion. Mas não descarta a possibilidade de concorrer no próximo.
Endereçada ao público feminino, será a primeira de sua carreira. E avisa: "Admiro a obra de Madame Grès, Givenchy, Dior, anos 30, 40 e 60. Eles têm um glamour diferente, uma aura de maravilha".
Hoje o estilista sabe de tudo: do bordado ao acabamento em alta-costura. Em pouco mais de um ano, passou por três maisons. Atualmente mora em Paris e divide-se entre a assistência e as aulas no Studio Berçot, de Marie Rucky.

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