São Paulo, sábado, 6 de abril de 1996
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Idéia de jerico

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Volta e meia aparece alguém dizendo que o Senado não serve para muita coisa. Que o Brasil estaria mais bem servido com um sistema parlamentar unicameral.
A tese é polêmica. Afinal, não é o Senado que é ruim. O problema são os senadores.
Esta semana foi o caso dos 87 carros de luxo comprados para os 81 senadores. É fichinha perto da última idéia do senador Edison Lobão (PFL-MA).
Lobão quer ressuscitar todos os títulos da dívida pública brasileiros emitidos desde 1902. Esses papéis estão caducos. Relíquias, são vendidos em feiras de antiguidade.
Esses papéis perderam o valor em 1967. Na época, o governo deu um prazo para os portadores resgatarem o dinheiro. O prazo foi prorrogado uma vez. Quem trocou, recebeu.
Preocupado com o pedido de "umas dez pessoas" que foram até seu gabinete, o senador preparou uma emenda à Medida Provisória 1.349, que define os títulos usados em privatização.
Pela MP, os títulos-relíquia teriam correção monetária integral. E seriam usados na compra de empresas estatais em leilões de privatização.
Hoje, ninguém sabe quanto existe dessas relíquias na praça. Banco do Brasil, Banco Central e Tesouro não conseguem encontrar os registros sobre o que foi resgatado.
O efeito da emenda Lobão, dependendo do valor, pode ser o de uma bomba atômica sobre a economia. Mas o senador considera um mero detalhe o fato de o valor dos títulos não ser conhecido. "É dever do Estado cumprir suas obrigações", diz.
É claro que o governo é contra e fará de tudo para que a idéia do maranhense não prospere.
Lobão ganhou notoriedade em 89 ao tentar fazer de Silvio Santos candidato a presidente por uma legenda de aluguel.
Não deu certo com Silvio Santos. Não dará certo com os títulos centenários. É só mais uma idéia de jerico. Que suja a imagem do Senado.

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