São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996
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'Dou minha terra se tiver índio lá'

GEORGE ALONSO
DO ENVIADO ESPECIAL A PESQUEIRA (PE)

Para os fazendeiros, não há índios em Pesqueira hoje. "Eles têm título de eleitor, carteira de motorista, aposentadoria. Todo tipo de documento, eles têm. Menos os documentos das terras", diz o fazendeiro Hamilton Didier.
Para Didier, muitos brancos viraram índios para terem acesso à terra. "Eles estão estudando o dialeto, para dizerem que são índios. Eu dou minha fazenda para você, se você achar algum índio lá."
Didier exibe documento de compra da fazenda Caipé por seu bisavô em 1885. "Isso aqui é história."
Os fazendeiros questionam, na verdade, se descendentes de xucurus podem ser considerados índios do jeito como vivem atualmente. Para eles, são pseudo-índios.
Não acreditam sequer nas poucas tradições mantidas pelos xucurus, como a dança do toré.
"Aqui (em Pesqueira) existem tantos índios quantos existem hoje na avenida Paulista ou em Copacabana", diz Didier, apoiado pelo presidente do Sindicato Rural de Pesqueira, Páudijo Queirós.
Isa Maria Pacheco, antropóloga da Funai, diz que o órgão, devido ao grau de miscigenação de várias tribos no Nordeste, não usa língua e traços físicos para definir um povo indígena. "No Nordeste, são raros os grupos que mantiveram sua língua, como os funiôs."
Segundo ela, a demarcação seguiu um laudo antropológico. "Acontece que ninguém se conforma em perder terras para índios. Mas é nossa obrigação reconhecer esses povos", afirma.
(GA)

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