São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996 |
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Os verdadeiros palestinos
ROBERTO CAMPOS
Brasil ---------------- 3,8 ------- 2,4 Chile ----------------- 3,7 ------ 5,3 Hong Kong ---------- 8,3 ------ 6,2 Malásia -------------- 5,8 ------ 7,2 Taiwan --------------- 8,4 ------ 7,3 Coréia do Sul ------- 7,8 ------ 8,3 Cingapura ----------- 6,8 ------ 9,0 Fonte: World Economic Outlook, FMI, 1995, Table A.5 Na segunda parte da década dos 80 e começo da atual, o Chile e os asiáticos começavam a liberalizar cada vez mais suas economias, deixando crescer o setor privado e priorizando exportações. O Brasil marchou na direção contrária, fechando sua economia e aumentando a intervenção governamental. É impressionante o elenco de maluquices antimercado: política de informática, planos heterodoxos -Cruzado, Bresser, Verão, Collor 1 e Collor 2- moratórias internacionais e Constituição de 1988! Esse contraste de experiências revela existir uma correlação positiva entre liberalização e crescimento; e negativa, entre dirigismo e crescimento! Recente entrevista à Folha do professor Rudiger Dornbusch, que treinou vários de nossos "nouveaux economistes" (assim apelidados por Delfim Netto), gerou maior calefação que iluminação. Dornbusch é melhor analista, de merecida reputação internacional, do que conselheiro. Durante a crise da dívida externa, nos anos 80, chegou a encorajar uma moratória tácita dos subdesenvolvidos, subestimando as devastadoras consequências da cultura do calote... Agora, criticando nossa equipe econômica, julga factível uma aceleração do crescimento real para 7% ao ano. Toleraria uma inflação na casa dos 20% e advoga uma indexação do câmbio para promover exportações. Ao mesmo tempo fala de coisas mais conservadoras como saneamento fiscal e privatizações. É uma salada mista com vitaminas visíveis e venenos ocultos. Como evitar, por exemplo, que a indexação do câmbio não se estenda a salários e preços? E se há saneamento fiscal e privatização, qual a necessidade de desvalorizar o câmbio? O que há a criticar em nossa equipe econômica não é sua obsessão antiinflacionária. Nem o sucesso do Chile tem qualquer coisa a ver com um maior pragmatismo no combate à inflação. Tem mais a ver com seu fanatismo na desregulamentação e na privatização (principalmente a privatização da Previdência Social, que elevou a poupança chilena a se aproximar dos níveis asiáticos). O que sim se deve criticar na equipe econômica é a falta de obsessão em lutar pela substituição de instrumentos inadequados -âncora cambial e restrição do crédito privado- por instrumentos menos recessivos. Esses seriam a privatização de estatais (hoje lenta), a desregulamentação (hoje nula) e as reformas estruturais. A proposta governamental da reforma administrativa é razoável, a da reforma previdenciária tímida, e a da reforma fiscal confusa e pouco inovadora. Nem se pode descarregar a responsabilidade sobre o Congresso, pois a própria propositura das reformas foi lenta e inorgânica, não tendo FHC aproveitado a lua de mel dos cem dias pós-eleitorais. A regulamentação dos monopólios já flexibilizado pelo Congresso está emperrada. Persistem cacoetes dirigistas no governo. E FHC tem pela economia de mercado o entusiasmo de uma bailarina constrangida a dançar ao som do cantochão! Texto Anterior: Questão de conveniência Próximo Texto: Conta do BB pode crescer Índice |
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