São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996
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Conta do BB pode crescer

CELSO PINTO

A conta do Banco do Brasil espetada nos cofres públicos corre o risco de ser maior do que o governo imaginava.
Ao anunciar a injeção de R$ 8 bilhões no capital do BB, o governo disse que a fatia que caberia ao Tesouro -ou seja, aos contribuintes-, ficaria em apenas R$ 2,3 bilhões. Isso, na suposição que os acionistas minoritários comparecessem com sua parte.
O mercado está cético. Alguns grandes administradores de carteiras de investidores estrangeiros, que têm 11% do capital do BB, estão claramente desaconselhando a participação no aumento de capital.
Uma das razões é o potencial de retorno do investimento. Pela sua cotação atual, o BB vale cerca de R$ 1 bilhão no mercado, o que não deixa de ser um preço atraente para um banco com R$ 58 bilhões em ativos. Por essa razão, vários investidores externos apostaram no BB recentemente. A lista dos principais acionistas do BB incluem raposas como o fundo Quantum (com 0,5% do capital), do megafinancista George Soros, além do Latinvest (1,2%), do Smith Barney (1,1%) e do Morgan Stanley (0,9%).
Para esses acionistas manterem a participação no capital do BB (não diluírem seu investimento), contudo, terão que colocar seis vezes mais dinheiro no negócio. Vale à pena?
Um banqueiro diz que não. O problema é que um banco oficial como o BB tem sua capacidade de gerar receitas e lucros naturalmente limitada. Seu "papel social", como diz a direção do BB, significa aceitar uma série de aplicações com menores margens de lucro. O BB, por ser um banco oficial, não tem, por definição, problemas de liquidez. Seu caixa é do tamanho do Tesouro Nacional. O risco intrínseco ao negócio, portanto, não muda porque o capital ficou um pouco maior ou menor.
Os bancos, por lei, devem ter uma relação rígida, definida pelos critérios da Basiléia, entre capital e aplicações, ponderadas pelo risco. Para um banco privado, portanto, mais capital significa maior capacidade de geração de negócios.
Essa relação é mais duvidosa no caso do BB. O aumento de capital do BB foi determinado exatamente porque o prejuízo acumulado no ano passado reduziu tanto o capital que o banco deixou de se enquadrar nas regras da Basiléia.
Claro que, se a regra existe, deve ser cumprida por todos. Só que, no caso do BB, argumenta este banqueiro, é duvidoso imaginar que a diferença de capital interfira substancialmente na sua capacidade de negócios.
Se tudo isso for verdade, o dinheiro a mais que um investidor colocaria para acompanhar o aumento de capital do BB poderia não trazer o retorno adicional desejado.
Alguns investidores externos poderão ser levados a acompanhar o aumento de capital por uma razão prática. Sempre que um administrador de carteiras deixa seu investimento em alguma empresa ser diluído, precisa explicar as razões. E a única explicação possível é que ele havia feito um investimento duvidoso, que deu errado. Quem não quiser enfrentar essa situação, poderá preferir colocar mais dinheiro no BB.
Outros acionistas pesados também poderão ser induzidos a colocar dinheiro no BB nem tanto por razões econômicas. É o caso, por exemplo, dos fundos de pensão, que têm 17% do capital do banco. Excluídos os fundos, contudo, sobra R$ 1,2 bilhão que viria de outros acionistas privados para o aumento de capital.
O fato é que, tudo o que não entrar de outros acionistas, entrará, por definição, do Tesouro. E isso significará um aumento da dívida mobiliária.
Serjão
O mercado está cautelosamente animado com os sinais recentes do ministro Sérgio Motta, das Comunicações, de que estaria mais flexível no caso da privatização de seu setor. Já se fala em privatização da chamada "banda A" de telefonia celular e das próprias teles regionais.
As várias mudanças de opinião do ministro justificam a cautela. Sua guinada mais recente é atribuída a conversas que teve em seu recente périplo no exterior. O que mais teria sensibilizado Motta teria sido o argumento que ele estava tentando preservar e fortalecer a fatia estatal do setor de uma forma suicida.
Manter as teles regionais nas mãos do Estado e liberar o mercado ao seu redor pode matar o valor das estatais na mesma proporção da eficiência das operadoras privadas. Depois de algum tempo, ninguém iria querer as teles, exceto por um preço vil.

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