São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996 |
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DEPOIMENTO "Fui-me embora da TV quando percebi que estava falando sozinha. Meu público mudou muito: a mulher de agora acha que se emancipar é imitar o homem no que ele tem de pior. Fala de sexo como se fosse a coisa mais banal do mundo. Quando saí fiquei absolutamente sozinha. Sumiu todo mundo que se dizia amigo, mas ainda hoje sou reconhecida -e muitas vezes agredida na rua. Outro dia, na feira, uma mulher me bateu muito. Arrancou o meu sutiã pela cabeça e deu um chute na minha uretra que me impediu de urinar direito por uma semana. Não acredito que tenha sido só porque falei educadamente que não se leva cachorro à feira -ela devia ter um problema qualquer com a personagem Xênia. Deixei de me relacionar com os homens aos 35 anos, quando vi que havia me cansado de sexo. Acho que é porque comecei muito cedo, aos 14 anos. As pessoas dizem que sexo é relaxante, mas toda vez que acabava de transar eu ia para o espelho e me achava um trapo. Vivo só e já ouvi até que sou sapatão: ora, uma mulher que tem coragem de dizer que foi casada com negros (e que sofreu muito mais do que eles por isso) não diria que gosta de mulher, se for o caso? Fiz só o primário, fui empregada doméstica e passei fome, mas não sou burra. Me chamaram na Polícia Federal quatro vezes, uma delas porque dei orientação a uma menina que perdeu a virgindade. Eu era tão inocente, que não sabia o que deveria dizer ao pessoal da PF. A partir de um determinado ponto, aprendi: tinha que bancar a estúpida, dentro de um vestido Marivalda (justo) e perguntar 'Ah, isso não pode?'. Vilma Barreto, 60, ficou conhecida do telespectador pelo nome artístico de Xênia Bier. Texto Anterior: Pioneiras do orgasmo viram donas-de-casa Próximo Texto: Têm 'neurose do regime' Índice |
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