São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996 |
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Empresas distribuem mais lucros para os acionistas
JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
Além de mostrar que as empresas estão líquidas, esse comportamento indica que começa aos poucos a mudar a lógica do mercado de capitais brasileiro. No Brasil, os investidores sempre se voltaram mais para a possibilidade de ganho com a oscilação dos preços das ações. Além do mercado ser pequeno e concentrado em poucos papéis ainda pesava o fato que, ao contrário do que acontece na maioria dos mercados de capitais no mundo, o grosso das ações que transitam pelas Bolsas brasileiras é preferencial (não dá direito a voto). Além disso, as empresas não precisam ter uma política agressiva de dividendos para atrair novos acionistas. Já que, no passado, a maior parte dos recursos que eram direcionados a esses mercados vinha de forma compulsória, como os chamados fundos 157. Agora, o jogo começa a mudar. A globalização da concorrência praticamente obrigou as empresas a buscar formas alternativas ao crédito bancário para bancar seus investimentos. Não é à toa que, lembra o diretor de Research do Banco de Boston, Sérgio Santamaria, "tem crescido a emissão de ações ordinárias (que dão direito a voto)." O que é, no fim, outro sintoma de mudança. Para Santamaria, o que está acontecendo é que o mercado de capitais está se profissionalizando e sofrendo a influência positiva da crescente participação dos investidores estrangeiros. "Os estrangeiros demandam muito das empresas uma política de dividendos", afirma. Até porque estão acostumados a uma relação diferente entre as possibilidades de ganhos nas aplicações de renda fixa (que pagam juros) e em ações. As ações pagam ao seu investidor dividendos e possibilitam ainda o ganho adicional de capital, propiciado pela valorização dos preços em Bolsa -normalmente vinculadas às perspectivas de resultados futuros da empresa. Nos EUA, os dividendos pagam anualmente algo próximo de 2,5%, enquanto as taxas de juros andam na casa dos 6% ao ano. Assim, os dividendos representam uma boa parcela do ganho em Bolsa e, por seu tamanho em relação aos juros, tornam mais fácil vislumbrar um retorno maior no mercado acionário do que no de renda fixa. Desse ponto de vista, o Brasil ainda tem uma caminho longo a percorrer. Os juros continuam na casa dos dois dígitos anuais, os dividendos pagam 2,17% ao ano. Estamos atrás da Argentina, que paga dividendos de 3,73%, da Venezuela (2,61%), da Grécia (5,28%) e até do Zimbábue (4,10%). Texto Anterior: Páscoa da República Próximo Texto: Moeda 'micada' encalha nos cofres dos bancos Índice |
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