São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996
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Pastore prevê déficit de US$ 2,8 bi em 96

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

As últimas projeções do professor Afonso Celso Pastore, que estão entre as mais respeitadas nos meios econômicos, prevêem um déficit de US$ 2,8 bilhões no comércio externo este ano.
O estudo, que começou a circular entre executivos na última semana, contraria as expectativas do governo, que espera equilíbrio ou mesmo um pequeno superávit.
Nos dois primeiros meses deste ano, a conta quase empatou: exportações de US$ 6,89 bilhões contra importações de US$ 6,86 bilhões. Em 1995, houve déficit de US$ 3,15 bilhões.
Cenários
Pela estimativa de Pastore, as importações devem chegar neste ano a US$ 48,8 bilhões, quase US$ 1 bilhão abaixo do resultado de 1995.
Para chegar àquela cifra, Pastore considerou que a economia brasileira crescerá apenas 2%.
Supôs ainda que a abertura às importações permanecerá nos padrões atuais, sem novas restrições, e que o valor do dólar será constante ao longo do ano.
Pastore supôs, portanto, a manutenção da política cambial.
Há quase um ano, o real tem sofrido pequenas desvalorizações em relação ao dólar, acompanhando a variação do Índice de Preços no Atacado, para produtos industriais, medido pela Fundação Getúlio Vargas.
Se houver valorização do real, assim como um maior crescimento da economia, as importações naturalmente tendem a subir.
Exportações
No modelo de Pastore, as exportações devem chegar a US$ 46 bilhões, cerca de US$ 500 milhões abaixo do resultado de 1995.
Essa é a principal diferença em relação às expectativas do governo, que conta com um aumento.
Para sua estimativa, Pastore utilizou o mesmo cenário interno aplicado às importações. Mas acrescentou variáveis externas.
Supôs que as exportações mundiais devem crescer 8% em 1996. No ano passado, o crescimento foi bem maior, de 17%.
Já as exportações brasileiras, também em 1995, cresceram apenas 7%.
Preços
Por outro lado, Pastore entende que o preço das principais "commodities" exportadas pelo Brasil, no conjunto, deve sofrer uma queda de 2,7% neste ano.
Em 1995, esse preço subiu 2%. No ano anterior, havia subido bem mais, 18%.
Para este ano, com base em estimativas do Banco Mundial, devem cair os preços do café e açúcar, ficando estáveis os de cacau e tabaco. Os demais sobem, especialmente o grupo soja.
Considerando a participação de cada item na pauta das exportações brasileiras, chega-se à ponderação de que o preço do conjunto das "commodities" deve cair 2,7%. O cenário externo, portanto, será menos favorável do que foi nos últimos dois anos.
Um crescimento da economia nacional superior a 2% também afetará negativamente as exportações. Com maior atividade econômica, torna-se mais vantajoso vender aqui do que lá fora.
Déficits
A conta do comércio externo é particularmente importante porque, a rigor, trata-se da única que pode ser alterada por providências do governo.
A outra conta externa importante, a de serviços, é estruturalmente deficitária. Inclui pagamento de juros sobre a dívida externa, fretes, seguros e viagens ao exterior.
No ano passado, esse déficit foi de US$ 17,8 bilhões, equivalente a quase 3% do Produto Interno Bruto. Pelos padrões internacionais, esse é o teto tolerável.
Para este ano, o governo conta reduzir o déficit em conta corrente com a melhoria do saldo comercial. Pela estimativa de Pastore, não vai funcionar.

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