São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996
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Segurança asiática volta a preocupar

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Daqui a dez dias acontece, em Tóquio, um encontro decisivo entre o presidente dos EUA, Bill Clinton, e o primeiro ministro japonês, Ryutaro Hashimoto.
Mas o tema central da pauta não será um novo acordo sobre divisão de mercados de chips eletrônicos, filmes fotográficos ou supervisão bancária.
Na Ásia, que parecia a fronteira mais paradisíaca de expansão capitalista, a segurança regional voltou a ser objeto de angústia.
As relações entre os EUA e a China estremeceram nas últimas semanas. E os tremores atingiram os satélites da região.
Além do episódio envolvendo Taiwan, agora são as Coréias que se tornam foco de tensão, depois que a Coréia do Norte renunciou às suas obrigações na zona desmilitarizada (o trecho que separa os dois Exércitos desde 1953).
Manobras conjuntas
Segundo oficiais japoneses, o que existe são diretrizes gerais, que é urgente atualizar e detalhar. A movimentação no Japão em favor de mais recursos para o orçamento militar também se faz sentir.
Depois dos incidentes entre China e Taiwan, a opinião pública japonesa tem sido alertada para a importância renovada do conceito de autodefesa (no Japão não existem Forças Armadas, mas Forças de Autodefesa, seguindo a Constituição imposta no pós-guerra).
A mídia internacional já faz há algum tempo um alerta semelhante. O "mood" (humor, clima) na região só piora, os executivos americanos na China ficam nervosos e a burocracia chinesa coloca o pé no freio dos seus projetos.
Comenta-se que a GM já estaria sendo vítima desses obstáculos. A empresa nega, insistindo que estar na China é uma decisão de longo prazo, visando a ocupar um mercado gigantesco.
Mas há outros exemplos de piora nas relações, da venda de artefatos nucleares pela China ao Paquistão à violação sistemática de propriedade intelectual na China.
Relações ameaçadas
O caso mais recente envolve o mercado de aviões na China. Os burocratas chineses estariam mais inclinados a comprar uma frota de 25 jatos (US$ 1,2 bilhão) da francesa Airbus. Uma área dominada por fabricantes americanos como a Boeing e a McDonnel Douglas.
Uma visita de um burocrata chinês aos EUA, onde anunciaria compras de aeronaves de cerca de US$ 4 bilhões, foi adiada. E em junho, Clinton deve decidir se prolonga o status de "nação mais favorecida" à China, cláusula que facilita o acesso de produtos chineses ao mercado americano.
As posições das peças no tabuleiro asiático estão sendo rápida e nervosamente alteradas. Aliás, essa é uma região onde é clara a relação entre interesses econômicos e capacidade de intervenção militar.
Os dois fatores agora são motivo de angústia, numa região que parecia condenada a servir de modelo universal de prosperidade.

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