São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996
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Rua perde 40% de seus moradores

DA REPORTAGEM LOCAL

Na rua Sérgio Ruiz de Albuquerque, no Jardim Ivana (zona oeste), região do Butantã, 40% dos moradores deixaram suas casas devido às cheias que atingem a região todos os anos. Os que ficaram têm que usar criatividade para enfrentar a situação.
Como não pode se mudar, a dona-de-casa Sandra Maria Ferrari, 31, decidiu erguer a casa de sua mãe sobre palafitas de quase dois metros de altura.
Assim, sua família pode se refugiar das águas.
Palafitas são estacas sobre as quais são construídas as casas em regiões alagadiças.
São comuns sobretudo na floresta Amazônica, que tem regiões que passam diversos meses por ano inundadas.
Sandra mora ao lado de sua mãe e, quando chove, vai com seus filhos e seu marido para a casa vizinha. "Mesmo assim, em março passado, a água entrou dez centímetros dentro casa levantada", conta ela.
Em sua casa, ela tomou outras medidas. Construiu, por exemplo, prateleiras quase ao nível do teto para poder guardar eletrodomésticos e roupas.
"Não vou embora porque nunca conseguiria um preço justo pela minha casa", diz o advogado Rogério Borges, 43.
Ele tem um sobrado que, avalia, custaria cerca de R$ 100 mil em outras regiões da cidade. "Se fosse vendê-lo hoje, não conseguiria nem R$ 20 mil".
Borges acha que, pior do que os prejuízos materiais, a situação enfrentada pelos moradores da rua acarreta graves problemas psicológicos.
"Mesmo que um dia eu mude para outro lugar, ou que as enchentes por aqui acabem, sempre vou ficar assustado quando começar a chover".
Na última enchente deste ano, que aconteceu no início de março, as águas chegaram a 1,85 m de altura na casa de Borges.
No bairro do Aricanduva (zona leste), que todo ano é atingido por enchentes, alguns moradores pediram para a prefeitura desapropriar suas casas para fugirem das inundações.
Nilton Milan, coordenador do grupo SOS Aricanduva, que presta assessoria a esses moradores, diz que essa foi uma forma de reduzir os prejuízos.
Apesar de a desapropriação ter sido feita a valores inferiores aos de mercado, o dinheiro que os proprietários vão receber ainda é superior ao que obteriam caso vendessem seus imóveis.

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