São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996
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Jardins, corredores e Cia. City

GIANFRANCO VANNUCCHI

Em 1915, foi construída a primeira casa no novo bairro Jardim América, projetado pela Cia. City.
Em 1941, dá-se a inauguração do novo Jockey Club de São Paulo, na várzea do rio Pinheiros.
Desde então, a ocupação acelerada dos vazios urbanos tornou-se um dos maiores problemas de nossa cidade, gerando congestionamentos, deterioração de bairros nobres e poluição ambiental.
Em relação aos "bairros jardins", duas posições surgiram durante esse processo.
De um lado, moradores de vias já degradadas pelo fluxo de veículos pressionam os poderes públicos para mudar o uso da zona, acreditando que, com isso, a desvalorização dos imóveis será estancada.
De outro, moradores dos "miolos" tentam engessar o avanço da cidade, pedindo tombamento e fechamento de vias públicas.
Em 1972, a criação dos corredores de uso especial permitiu usos comerciais restritos, como bancos, galerias de arte e outras atividades congêneres.
Na verdade, apesar do tombamento de parte dos Jardins, em 1986, esses pequenos centros comerciais, disfarçados de "show-room", diminuíram as áreas verdes e a drenagem do solo.
Também lotaram ruas próximas com carros de clientes e funcionários, alastrando feito célula cancerígena o efeito dominó da desvalorização, gerando, consequentemente, novas pressões na direção da mudança do uso do solo.
É indiscutível a importância dos Jardins como pulmão verde de São Paulo, bem como o direito à qualidade de vida dos seus moradores.
No entanto, não se pode ignorar que a cidade é um organismo vivo e dinâmico, cujas vias encontram-se totalmente congestionadas devido a um precário sistema de transportes coletivos.
Neste momento é inviável pensar em bloquear vias públicas que recebem volume intenso de tráfego para torná-las de uso exclusivo: correríamos o risco de parar São Paulo de vez.
Novas alternativas têm que ser propostas à Lei de Zoneamento (hoje com 24 anos!) no sentido de equilibrar e acomodar os vários interesses.
Uma solução seria permitir, nas principais ruas dos Jardins, o adensamento do uso residencial. Casarões unifamiliares, hoje desvalorizados, poderiam ser adaptados para uso de algumas famílias.
Pequenos edifícios de dois pavimentos, ou vilas com frações menores do que hoje é permitido, obedecendo a taxas restritivas de ocupação, são exemplos de alternativas comercialmente viáveis sem que se altere significativamente a qualidade ambiental.
Resumindo, a idéia central seria criar um cinturão protetor aos Jardins, composto por lotes mais adensáveis, mas preservando seu uso residencial e atendendo a uma nova relação custo/benefício condizente com a realidade atual.
P.S.: Falando em Jardins, é inacreditável que, após desapropriar e demolir construções da Praça Nossa Senhora do Brasil para criar uma simpática área verde, seja erguido no local um incrível monumento à incontinência urinária.

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