São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996
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Aumenta número de fumantes nos EUA

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Apesar de 32 anos de campanhas massivas de educação pública, o número de fumantes nos Estados Unidos parou de declinar e entre adolescentes está crescendo.
Ainda há 47 milhões de pessoas fumando de forma regular no país. No mundo, o número é calculado em um bilhão.
Muitos pesquisadores sociais tentam encontrar a resposta para esse aparente paradoxo (tanta gente continuar fumando apesar do conhecimento disseminado dos males que o tabaco provoca à saúde humana).
A maioria acusa a publicidade, os interesses econômicos da indústria do tabaco, a conivência dos governos nacionais.
Mas crescem em importância e número as teses de que há fortes razões culturais para justificar o hábito do fumo.
Cigarros sublimes
Um dos pioneiros desse caminho foi Richard Klein, professor da respeitada Universidade de Cornell, que em 1993 publicou "Cigarettes Are Sublime" (Os Cigarros São Sublimes, Duke University Press).
Especialista em literatura francesa, Klein resolveu se dedicar ao estudo do fenômeno cultural do fumo como fórmula (bem sucedida) para ele próprio abandonar o hábito.
Sua conclusão foi: "A qualidade que explica o enorme poder de sedução do cigarro está ligada a formas específicas de beleza que ele promove..., que nunca foi entendida ou representada como inequivocamente positiva..., e sim associada com alguma forma de transgressão".
Klein usa o adjetivo "sublime" para classificar o cigarro, no sentido que lhe foi dado pelo filósofo Kant, o de uma satisfação estética que inclui entre seus momentos uma experiência negativa, um choque, um bloqueio.
"Eu me convenci de que o cigarro é uma parte crucial da nossa modernidade e de que o seu significado cultural está para ser esquecido em face dos ataques ferozes, às vezes fanáticos ou supersticiosos e frequentemente suspeitos que são feitos contra ele", diz Klein.
Outros autores, como Jordan Goodman, tentam entender o fenômeno com outro tipo de explicações culturais. Em seu livro "Tobacco in History: The Cultures of Dependence" (Routledge), ele associa o fumo a práticas mais utilitaristas.
Segundo ele, as pessoas começaram a fumar porque no século 16 o tabaco parecia uma panacéia herbívora coerente com a tradição médica européia da época. Depois, o cigarro se transformou em fonte de prazer ou em suporte psicológico ou emocional.
O fenômeno cultural do tabaco intriga até pessoas que estudam o fenômeno nas sociedades pré-colombianas que primeiro o usaram, como Johanne Wilbert, em seu livro "Tobacco and Shamanism in South America" (Yale University Press).
Wilbert notou que, em muitos casos, áreas em que o tabaco mais crescia na América registravam consumo muito menor do que outras, onde ele passou a ter grande relevância cultural.
Todos os autores que estudam o hábito de fumar sob uma perspectiva cultural condenam a tese cada vez mais alardeada nos EUA de que o cigarro deve ser proibido. Além de ineficaz, diz um deles, Thomas Laqueur, essa medida constituiria injustificável ataque às liberdades individuais.

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