São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996
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Professor diz que onda antiálcool vai passar

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O atual movimento contra o consumo de álcool e demais produtos tidos como prejudiciais à saúde (como o cigarro, a carne vermelha e outros) é apenas uma onda, que vai refluir normalmente, como já aconteceu no passado.
A tese é de David Musto, professor de história da medicina da prestigiosa Universidade de Yale (EUA), que há 30 anos se dedica ao estudo das atitudes do público norte-americano sobre o álcool.
Ele concluiu que, desde a independência dos Estados Unidos em 1776, têm ocorrido ciclos alternados, de aproximadamente 70 anos cada, de condenação extremada e de condescendência e até simpatia ao consumo de álcool.
Em geral, os ciclos de tolerância são acompanhados de aumento de consumo de bebidas alcoólicas e os de desaprovação trazem algum tipo de medida legislativa para conter ou mesmo proibir seu comércio.
Lei Seca
Antes do período de 14 anos de Lei Seca nacional (1919-1933), na década de 1850, final do primeiro ciclo de rejeição, 13 dos 40 Estados da época proibiam o consumo de álcool.
Nos últimos 15 anos, o consumo de álcool caiu 15%.
As bebidas que mais sentiram o efeito da oposição ao álcool foram as destiladas (como uísque, vodca, gin). Mas as fermentadas (vinho e cerveja) também perderam compradores.
O professor Musto diz que quase nada do que se vê agora em termos de argumentos contra o álcool é novidade. Nem mesmo produtos como cervejas não alcoólicas são novos (na Lei Seca, vendia-se a "quase cerveja").
Porque os ciclos são muito longos, muitos fenômenos ou raciocínios são encarados como inéditos. Mas, segundo Musto, quase todos têm antecedentes similares ou idênticos bem documentados.
Musto diz não ser possível prever até onde o atual ciclo antialcoólico pode chegar. Mas ele não acha impossível que medidas legais sejam tomadas contra bebidas alcoólicas, apesar do que se aprendeu no período da Lei Seca.
Crime organizado
A Lei Seca foi, com certeza, uma das causas para a incidência de cirrose hepática no país ter chegado ao mais baixo nível da história.
Mas também contribuiu demais para a consolidação do crime organizado nos Estados Unidos, que até hoje provoca enormes danos sociais ao país.
Para Musto, os EUA não têm conseguido, como outros países, reduzir o consumo de álcool de uma forma racional e sem histerias.
"Será que um dia nós vamos conseguir tratar desse problema de uma forma razoável ou vamos sempre alternar atitudes radicais e extremistas de repúdio ou enaltecimento do álcool?", ele pergunta.
Sua resposta, cheia de otimismo, é de que há sinais de esperança, como a recente recomendação do Departamento de Saúde do governo federal de que um ou dois copos de vinho por dia podem fazer bem para a saúde.

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