São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996
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Estudo do aquecimento requer tempo

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Richard A. Kerr ("Science", 267, 612) comparou dois artigos sobre aquecimento do globo publicados com intervalo de um mês em "The New York Times" e "Reader's Digest" com conclusões opostas.
Buscando a razão da discrepância, ouviu especialistas e concluiu que nenhum dos resultados é válido por ter sido muito curto o período observado e analisado em cada caso. Um ano ou mesmo 15 para trabalhos desse gênero representam muito pouco.
Thomas Karl, do Centro Nacional de Dados Climáticos, diz que nesses casos os resultados são tanto melhores quanto mais longo o registro dos dados porque a história da temperatura da Terra é cheia de picos e platôs. Os mais longos registros revelam modesto, mas evidente aquecimento no século.
Baseou-se o "The New York Times" em diversos dos melhores dados, mas, ainda segundo Karl, a afirmação de que o aquecimento global "reassumiu" é imprópria.
"Poder-se-ia dizer que as temperaturas rebotearam para trás ao nível relativamente alto da última década e meia."
Esse rebote, segundo o "New York Times", põe fim aos três anos de resfriamento provocado pela erupção do monte Pinatubo nas Filipinas, tempo necessário para assentar os detritos que, na estratosfera, impediam em parte a passagem da radiação solar.
Em 1944, assentados na troposfera quase todos os detritos, o calor da década de 80 pôde voltar. Nessa década ocorreram alguns dos anos mais quentes já registrados. Suprimidos os dois ou três anos de Pinatubo, verifica-se que as temperaturas desde 1979 são relativamente estacionárias, afirma Karl. Os dados em que se baseia "Reader's Digest" provêm de análises de registros de satélite, os únicos, segundo Kerr, que permitem monitoramento verdadeiro da temperatura.
Karl, que apóia essa afirmação, salienta entretanto que o registro por satélite é até aqui muito curto e não pega o grande surto da temperatura global por volta de 1977, que precedeu as altas temperaturas da década de 80. Se o registro houvesse começado uns anos antes, então mostraria significativo aquecimento. É a opinião de Karl.
Esse surto de aquecimento é um dos dois que se destacam no registro de 140 anos de aquecimento global da superfície terrestre mantido por Philip Jones e David Parker. O outro, informa Kerr, teria começado por volta de 1920 e durou 20 anos até chegar a um platô. Os dois respondem, juntos, pela maior parte do aquecimento de 0,4°C neste século, o que não corresponde ao previsto nos modelos de "efeito estufa".
Sinais nervosos
Na 47ª Reunião Anual da SBPC em São Luís, Maranhão, o "Jornal de Ciência Hoje", daquela Sociedade, destaca o trabalho apresentado por Edson Xavier de Albuquerque (Universidade Federal do Rio de Janeiro-Universidade de Marylan, dos EUA) sobre a observação do momento em que a célula nervosa se comunica com outra.
Para isso ele usou equipamento novo, o microscópio de infravermelho, por ele desenvolvido.
Há quatro anos não se sabia como agiam os receptores nicotínicos dos neurônios, pela impossibilidade de vê-los.
Com auxílio do novo instrumento percebe-se que eles são sensíveis não só ao chumbo, mas também aos organofosfatos contidos em certos inseticidas e a drogas como a cocaína. Essas substâncias bloqueiam a modulação da transmissão de sinais entre os neurônios.
Esse bloqueio faz com que crianças, que poderiam desenvolver mais sinapses- pontos de contato dos prolongamentos das células nervosas-, não cheguem a atingir todo o seu potencial de inteligência. Segundo Albuquerque, o mesmo bloqueio provocado por fatores ambientais talvez possa ativar processos de degenerescência nervosa, como no mal de Alzheimer.

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