São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996
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Meneau mostra a cozinha da Borgonha

JOSIMAR MELO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O mês de abril está generoso em matéria de grandes chefs. No próximo fim de semana três deles darão aulas no evento Boa Mesa 96 (veja nesta página). Uma semana depois, no mesmo local -o World Trade Center-, uma estrelas da cozinha francesa, o chefe Marc Meneau, não somente dá aulas como também cozinha no restaurante de lá.
Marc Meneau é um expoente unânime, detentor da cotação máxima dos guias Michelin e GaultMillau. Ele teve uma formação peculiar. Nunca frequentou uma escola de cozinha e nunca fez o chamado "tour de France" (trabalhar em restaurantes de chefs consagrados pelo país). Aliás, aos 52 anos, mal saiu da sua região natal, a Bourgogne.
Nascido em Vézelay, famosa pela igreja românica do século 12, e onde tem seu hotel (l'Ésperance) e o restaurante com seu nome, o autodidata Meneau teve influências de pessoas com quem conviveu. Como Alex Humbert, que foi chef do Maxim's de Paris (quando o restaurante era um ícone gastronômico), e que Meneau conheceu já aposentado.
Aqui Meneau servirá refeições fortemente influenciadas pelos valores de sua região, mas trabalhadas com inspiração e senso de equilíbrio. E também experimenta produtos locais, ainda sem saber exatamente no que vai dar: "será uma aventura", disse à Folha.
*
Folha - Muitos críticos afirmam que a cozinha francesa anda sem um rumo definido. O senhor concorda?
Marc Meneau - Não, é o contrário. A cozinha francesa conserva sua identidade, sua cultura. Além disso, ela se impôs no mundo, mesmo que adaptada às condições locais: há novas cozinhas que utilizam muitas influências, como a "fusion cuisine", mas a base é francesa.
Folha - E que cara tem hoje esta cozinha?
Meneau - As raízes da cozinha francesa têm dois mil anos e ainda estão presentes, mas evidentemente acompanhando a evolução dos costumes, o ritmo de vida. Os costumes, e mesmo os produtos, não são mais os mesmos. Nossa cozinha avança, evolui.
Folha - Mas continua cara, talvez demais para o público de hoje...
Meneau - Sem dúvida. A melhor cozinha exige muito trabalho e ótimos ingredientes, o que é caro. Hoje os investidores preferem abrir restaurantes menos caros, como os italianos. Não se pode comparar uma pizza de tomate com uma galinha de Bresse com trufas.
Folha - Estes custos não inviabilizam restaurantes como o seu?
Meneau - A França vive uma situação difícil, onde há menos dinheiro para gastar. A tendência então é haver menos grandes restaurantes. Mas eles continuarão existindo. É tudo uma questão de escolha, e não de processo. É uma escolha de tipo de vida, e sempre haverá quem prefira ir a um grande restaurante que gastar este dinheiro com outra coisa.
Folha - A cozinha de seu restaurante é tipicamente da Bourgogne?
Meneau - É uma cozinha francesa com uma certa identidade bourguignonne. Tento utilizar ao máximo os produtos da região, e certas bases daqui como os molhos de vinho e de carne. Tento transmitir no prato a filosofia e a história da região.
Folha - É o que o senhor vai mostrar no Brasil?
Meneau - Vou mostrar pratos típicos do meu trabalho, mas também usar alguns ingredientes daí. Usar a cavaquinha, por exemplo, adaptada a meu creme de lagosta. O resultado será para mim uma surpresa, uma verdadeira aventura.

Quando: de 19 a 27 de abril.
Onde: av. das Nações Unidas, 12.551.
Quanto: Menus de R$ 100,00 a R$ 200,00. Aulas, R$ 250,00 a R$ 300.00.

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