São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
A genética em lua-de-mel
RICARDO BONALUME NETO
É esse o tema do livro de Dorothy Nelkin e M. Susan Lindee, "The DNA Mystique - The Gene as a Cultural Icon" (A Mística do DNA - O Gene como um Ícone Cultural), publicado no ano passado nos EUA. A divulgação da genética pelos meios de comunicação está criando uma simbologia poderosa. Os próprios cientistas costumam repetir insistentemente uma metáfora -comparando o sequenciamento do genoma à busca do Santo Graal, o mítico cálice que Jesus teria usado na última ceia e no qual seu sangue teria sido recolhido de um ferimento enquanto estava na cruz. O cientista Richard Lewontin, um dos raros a ter uma visão crítica da moderna biotecnolgia, acha irônico que uma profissão que tenha tantos judeus e ateus "tenha escolhido como sua metáfora central o objeto mais repleto de mistério da Cristandade medieval". Fica ainda mais irônico quando se vê como muitos desses pesquisadores têm interesses comerciais diretos em suas pesquisas. Nelkin, em um livro anterior sobre a divulgação de ciência pelos meios de comunicação ("Selling Science" - Vendendo a Ciência), mostrou como isso tem acontecido em ciclos. Em uma época a cobertura jornalística tende a endeusar a ciência. Em outros momentos, a ciência seria uma espécie de gênio libertado da garrafa, com consequências imprevisíveis e muitas vezes nocivas. Já com a genética ainda se viveria uma lua-de-mel. Para Nelkin e Lindee, essa tomada de assalto da cultura popular pelo gene "reflete e passa uma mensagem que chamamos de essencialismo genético", que, dizem as autoras, reduz a pessoa a uma entidade molecular, "equacionando seres humanos, com toda sua complexidade social, histórica e moral, a seus genes". (RBN) Texto Anterior: Empresas compram patentes de genes Próximo Texto: A nova colonização genética Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |