São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996
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Veteranos afegãos exportam revolução

Ex-inimigos da URSS criam base de guerrilhas

JAIME SPITZCOVSKY
ENVIADO ESPECIAL A PESHAWAR (PAQUISTÃO)

Veteranos da Guerra do Afeganistão, antes engajados na "guerra santa" muçulmana contra os invasores soviéticos, agora ajudam movimentos radicais islâmicos em outros países e atuam em grupos terroristas.
A região da fronteira afegã-paquistanesa virou um santuário para militantes fundamentalistas, com campos de treinamento militar e universidades para doutrinação ideológica.
Durante a Guerra do Afeganistão, um apelo percorreu o mundo islâmico, em busca de voluntários para combater o inimigo soviético. Entre 1987 e 1993, o Paquistão, base da resistência afegã, registrou a chegada de mais de 6.000 árabes, o mais numeroso grupo de estrangeiros que apoiou a guerrilha anticomunista.
Depois de 1992, quando caiu o governo comunista do Afeganistão, ativistas árabes continuavam a chegar ao Paquistão para o trabalho de ajuda humanitária aos refugiados da guerra. Mas o governo paquistanês acusa alguns ativistas de se envolverem com radicais.
O terror atacou dentro do Paquistão no ano passado. Um carro-bomba destruiu a Embaixada do Egito em Islamabad (capital), e os acusados da autoria do atentado são egípcios que lutam para impor uma revolução islâmica no país.
Xeque cego
Entre os ativistas egípicos que visitaram o Afeganistão e o Paquistão durante a guerra contra os soviéticos está o xeque Omar Abdel Rahman, preso nos EUA sob a acusação de tramar a explosão da sede da ONU em Nova York, entre outros planos terroristas.
O xeque, que é cego, também desponta como liderança espiritual dos quatro terroristas presos nos EUA pela explosão no World Trade Center, em Nova York, há três anos. O atentado matou seis pessoas e feriu cerca de mil.
Omar Abdel Rahman visitou duas vezes Peshawar, o centro da resistência afegã durante a guerra, e seus dois filhos mais novos combateram os soviéticos.
A lista de egípcios veteranos da Guerra do Afeganistão e empenhados em derrubar o governo do presidente do Egito, Hosni Mubarak, inclui também Mohammad Shauki Islambouli. Ele é o irmão mais novo do major Khalid Islambouli, um dos assassinos do presidente egípcio Anuar Sadat.
Outro extremista egípico que guerreou no Afeganistão, Talat Qasin, foi preso em 1995 na Croácia. Ele desembarcou na ex-Iugoslávia para lutar contra os sérvios ao lado das tropas da Bósnia.
França
Veteranos da Guerra do Afeganistão também injetam seu fanatismo em outros palcos europeus. O governo francês suspeita que os autores dos atentados a bomba que mataram sete pessoas na França de julho a novembro do ano passado receberam treinamento militar na região da fronteira afegã-paquistanesa entre 1991 e 1994.
Os terroristas são fundamentalistas muçulmanos, empenhados em derrubar o governo da Argélia, que é apoiado pela França. Veteranos do Afeganistão comandam o Grupo Islâmico Armado, uma das facções mais radicais do país.
Os campos de treinamento, localizados no lado afegão da fronteira, receberam também tchetchenos mergulhados na rebelião contra a Rússia. O comandante separatista Chamil Basaiev já visitou o Paquistão duas vezes.
Nas Filipinas, o separatismo islâmico no sul do país também se aproveita da base afegã. Eles auxiliam o grupo terrorista Abu Sayyaf, considerado pelo governo filipino uma das "principais ameaças à nação".

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