São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996
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"Sai de Baixo" é o tataravô da "TV Pirata"

VAGUINALDO MARINHEIRO
EDITOR DE COTIDIANO

O novo programa humorístico da Rede Globo, "Sai de Baixo" (domingo após o "Fantástico"), não tem nada de novo.
O cenário repete o da "Família Trapo": palco italiano, platéia, câmeras posicionadas a dar uma impressão de que o telespectador está no teatro e toda a trama ocorrendo em um único local, a sala de um apartamento.
Já os personagens parecem tirados do "Balança, Mas Não Cai" ou da "Praça da Alegria".
Lá estão o tio solteirão e galinha (Luiz Gustavo), tipo que permite a participação especial de mulheres gostosas e seminuas; a empregada palpiteira e desbocada (Claudia Gimenez); o corrupto metido a mandão (Miguel Falabella); a perua que perdeu o dinheiro, mas não a pose (Aracy Balabanian); a fogosa burra (Marisa Orth) e o abobalhado (Tom Cavalcante).
Em "Sai de Baixo" só faltam o primo rico e o primo pobre e a velha surda. Mas calma. Até agora, só foi exibido o primeiro programa.
No episódio de estréia não faltou sequer o clichê dos clichês: homens vestidos de mulher. No final da história, Tom Cavalcante se travestiu de mulher (loira, é claro) para fingir ser a noiva do solteirão Vavá. Também é claro que o travesti conquistou o corrupto-garanhão.
Todas as falas são também previsíveis e velhas. De Aracy Balabanian, que ainda invoca o período militar ("Se o brigadeiro estivesse vivo, botava o urutu na rua"), até os ditados errados de Marisa Orth ("Quem com ferro fere, tanto bate até que fura"). Adolescentes fazem melhor em qualquer peça de escola.
"Sai de Baixo" pode até fazer rir. Mas só pela qualidade do elenco (exceção feita a Miguel Falabella). Pode também atingir seu objetivo: baixar a audiência de seu concorrente, o "Topa Tudo por Dinheiro", do SBT.
Mas é pouco para uma emissora que na década de 80 conseguiu arejar o humor brasileiro com programas como "Armação Ilimitada" e "TV Pirata".
Se fossemos traçar uma linha evolutiva, "Sai de Baixo" seria o tataravô desses dois programas.

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