São Paulo, quarta-feira, 10 de abril de 1996
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Governo planeja uso eleitoral de verbas

SÔNIA MOSSRI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo federal pretende assinar, agora, todos os convênios com as prefeituras para poder liberar o dinheiro durante as eleições.
O objetivo é driblar a legislação eleitoral que veta a liberação de recursos para municípios ao longo do segundo semestre, período de campanha e das eleições.
O Palácio do Planalto ainda busca o artifício mais adequado para fazer valer essa sua determinação.
A lei 9.100, de setembro de 95, proíbe as "transferências voluntárias" aos municípios após 30 de junho, excetuando-se verbas para obras já em andamento e destinadas a atender casos de emergência e calamidades públicas.
O Orçamento da União de 96 prevê R$ 2 bilhões em programas que beneficiam municípios: saneamento, abastecimento de água, parques recreativos, infra-estrutura urbana, auxílio financeiro a hospitais e construção de açudes.
Gabinete Civil
A Folha apurou que o Gabinete Civil da Presidência elabora parecer jurídico para possibilitar que os convênios assinados com municípios até 30 de junho possam ser liberados depois desta data.
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) informou que foi consultado pela assessoria jurídica do Gabinete Civil sobre o repasse de verbas posterior a 30 de junho.
O TSE ainda vai regulamentar a lei 9.100, com regras definidas para a transferência de recursos e propaganda eleitoral.
Como o Orçamento de 96 somente foi aprovado pelo Congresso ontem, parlamentares já pressionam o governo para assinatura de convênios até 30 de junho.
O relator do Orçamento, deputado Iberê Ferreira (PFL-RN), afirmou que os congressistas estão preocupados com a assinatura de convênios antes desta data.
"Vai haver uma corrida para a assinatura de convênios, mas ainda não sabemos se os recursos poderão ser liberados depois de 1º de julho", afirmou Ferreira.
Os novos convênios, relativos a programas com verbas do Orçamento de 96, somente podem ser assinados depois da sanção do projeto pelo presidente da República e a publicação do quadro de detalhamento de despesas, o que pode levar mais de um mês.
Com isso, restariam cerca de 45 dias para assinatura de convênios com prefeituras. Por isso mesmo, os parlamentares querem garantir desde já a assinatura de convênios com o Palácio do Planalto e Ministério do Planejamento.
Pressões
Os líderes na Câmara do PMDB, Michel Temer (SP), e do PFL, Inocêncio Oliveira (PE), querem que o governo libere verbas de todos os convênios assinados com municípios até o final deste semestre.
"Todos os convênios firmados até a data fixada pela legislação podem ser repassados depois", afirmou o líder peemedebista.
"Não se pode administrar o setor público com filigranas jurídicas. Conseguimos um Orçamento independente", disse Inocêncio.
O pefelista considera que todos os convênios assinados até 30 de junho são legítimos e, portanto, podem ser liberados ao longo do segundo semestre ao ano.
O principal argumento de Inocêncio é que a realização das eleições em outubro não pode paralisar a administração pública.
Outro lado
A Folha tentou falar com o ministro-chefe do gabinete Civil, Clóvis Carvalho, sobre o parecer de sua pasta.
Carvalho encontra-se em Nova York (EUA), em viagem particular. Sua assessora de imprensa, Ana Lúcia Studant, afirmou ontem que somente o ministro poderia comentar o assunto.
A Folha tentou ouvir o secretário do Tesouro Nacional, Murilo Portugal, que libera as verbas, sobre o repasse de recursos a municípios.
Foi deixado um recado com sua secretária Raquel às 16h de ontem. Até o fechamento desta edição, ele não havia se manifestado.
O coordenador de Comunicação Social do Ministério do Planejamento, Inácio Muzzi, disse que o assunto não é de responsabilidade do órgão.

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