São Paulo, quarta-feira, 10 de abril de 1996
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PF investiga 21 bancos sem fazer prisões

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA; DA SUCURSAL DO RIO

Apesar de investigar desde 1992 o envolvimento de bancos com lavagem de dinheiro, a Polícia Federal não conseguiu ainda provas suficientes para que a Justiça coloque um banqueiro na cadeia.
Pelo menos 21 bancos estão sendo investigados por evasão de dólares por contas CC-5 (para residentes no exterior). Essas investigações geraram 52 inquéritos.
Anteontem, o presidente Fernando Henrique Cardoso falou em enviar para a cadeia os banqueiros que administrarem mal os recursos de suas instituições.
FHC determinou à PF que dê prioridade às investigações de indícios de crimes contra o sistema financeiro já encontrados nos bancos Nacional e Econômico.
Procuradores da República no Rio e Bahia (responsáveis por transformar os indícios de crimes em denúncias) reclamam que o trabalho da PF é lento. Até agora, apesar dos indícios de crime, nenhuma denúncia foi formalizada contra dirigentes dos dois bancos.
Mais rápido do que ver um banqueiro preso, FHC tem outro objetivo: reverter sinais de desconfiança que a crise do sistema financeiro brasileiro provocou na opinião pública e no mercado externo.
Esquema PC
As investigações da PF sobre os bancos foram iniciadas com a apuração do chamado esquema PC, montado pelo empresário Paulo César Farias no governo Collor (1990-92) para receber dinheiro de empresários em troca de favores junto à administração federal.
A PF reclama que tem dificuldades para comprovar a relação dos banqueiros com as operações ilegais nos bancos, como a abertura de 23 contas "fantasmas" (abertas com CGCs inexistentes) ou "laranjas" (de testa-de-ferro).
Os cerca de cem inquéritos instaurados no caso PC conseguiram a condenação do ex-tesoureiro de Collor e de seus sócios e funcionários por falsidade ideológica.
Apesar de terem conseguido a quebra do sigilo bancário de 300 contas, a polícia não conseguiu provar que os gerentes dos bancos, autorizados pelos banqueiros, compactuavam com as fraudes.
Nas investigações, a PF detectou falta de fiscalização do BC (Banco Central) sobre a abertura de contas nos bancos para impedir a movimentação de dinheiro ilegal.
Conselho
O Ministério da Justiça estuda a criação de um conselho formado pela PF, BC, Receita Federal e Comissão de Valores Mobiliários para estudar formas de combate à lavagem de dinheiro sujo.
"Todas as categorias interessadas no assunto serão ouvidas", diz o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Milton Seligman.
O procurador da República no Rio Artur Gueiros disse que BC, PF e Receita trabalham "de costas um para o outro".
Gueiros foi um dos procuradores que conseguiu a prisão preventiva do ex-vice-presidente de Controladoria do Nacional Clarimundo Sant'Anna.
Ele diz que, quando a Procuradoria quer denunciar alguém por crime financeiro, precisa ficar "puxando" os três órgãos federais para cruzar as informações.

Colaborou a Sucursal do Rio

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