São Paulo, quarta-feira, 10 de abril de 1996
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QUANTO MELHOR, PIOR

A notícia de que em março foram abertos 140 mil novos postos de trabalho nos Estados Unidos foi apontada como um dos principais motivos da recente alta das taxas de juros norte-americanas e da queda da Bolsa de Valores de Nova York. Com ela, caíram também as Bolsas de vários países, inclusive a do Brasil, e o valor dos títulos da dívida externa.
Essa reação em cadeia ilustra o repetido mote de que o poder dos governos e autoridades econômicas está se reduzindo diante de mercados globalizados e desregulamentados.
Os dados mais favoráveis sobre o emprego nos EUA fizeram com que analistas previssem pequenas pressões inflacionárias e que, para evitá-las, o Fed (o banco central dos EUA) elevaria em breve as taxas de juros de curto prazo.
Baseada no comportamento passado do Fed, essa foi uma previsão defensável. Se estiver correta, a alta antecipada dos juros tenderá a evitar um aumento tido como indesejável no ritmo de crescimento. Mas a expectativa também pode não se concretizar -ou seja, as 140 mil vagas de março podem não pressionar a inflação, nem induzir o Fed a elevar os juros.
Nesse caso, mesmo que a expectativa venha a mostrar-se equivocada, a alta imediata nos juros promovida pelo mercado já terá acarretado, por si só, consequências reais, principalmente nos mercados ditos emergentes, como o do Brasil.
Em vez de apenas prever as decisões de política econômica, as expectativas podem assim substituí-las, em certo sentido. A crença predominante nos mercados tem efeitos reais, pelo menos em alguns casos, mesmo que esteja errada ou que inicialmente não tenha fundamento algum.
Para o Brasil, essa situação pode produzir resultados perversos. Com a estabilização ainda fortemente ancorada na valorização cambial, o país continua dependendo intensamente dos humores do mercado financeiro internacional.

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