São Paulo, sexta-feira, 12 de abril de 1996
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Telefonia chilena

LUÍS NASSIF

Há dois modelos de privatização do setor telefônico já implementados na América Latina: o chileno e o argentino (e mexicano).
O argentino caracterizou-se pela transferência de monopólios do setor público para o setor privado, sem nenhuma espécie de regulação prévia.
O resultado foi um horror para o chamado custo argentino, aumentando sensivelmente o preço das chamadas locais e internacionais.
A marca do modelo chileno foi o da instituição da competição em todos os setores da telefonia -inclusive na telefonia convencional- e resultou em um modelo em que todos ganharam: país, empresas do setor e consumidores.
Essa é a avaliação de Raimundo Beca Infante, vice-presidente da Companhia Telefônica Chilena (CTC), a ex-estatal chilena que foi privatizada e comandou o processo.
Por enquanto, a América Latina continua uma mistura de monopólios públicos ou privados, onde o Chile é uma luminosa exceção.
Nos serviços de telefonia local, por exemplo, apenas o Chile instituiu regime de concorrência. Há seis países operando com monopólios privados (entre os quais a Argentina e o México) e 13 em regime de monopólio público (entre os quais o Brasil). O mesmo ocorre nos serviços de longa distância.
Em relação à telefonia celular, o panorama é diferente. Com exceção do Brasil (até agora), todos os serviços celulares em todos os demais países operam em regime de competição. O mesmo ocorre na área da TV paga.
Concorrência
O modelo chileno inovou em vários aspectos. Decidiu-se pela competição em todos os mercados, pela globalização (por meio da ligação da CTC com as grandes redes mundiais de comunicação que estão sendo criadas) e pela obrigatoriedade da conectividade (ou seja, de todos os sistemas de comunicação que entrarem no Chile se conectarem à rede básica).
Só em Santiago, a capital, há cinco companhias disputando a telefonia convencional. No celular, há duas bandas atuando e, em breve, vai-se abrir mais uma para disputar o mercado.
Com a abertura, o Chile atraiu a nata dos operadores e fabricantes mundiais de equipamentos. South Bell, Siemens, Samsung, Televisa, Motorola etc., sem que a companhia nacional fosse devorada pelos gigantes.
Números
Os resultados foram expressivos. De 87 (início da privatização) a 95, a evolução dos números foi a seguinte:
* O número de linhas saltou de 548 mil para 1,7 milhão;
* a conta mensal nos serviços locais baixou de US$ 39,87 para US$ 25,2 -redução de 37%;
* os interurbanos passaram a ter tarifa local;
* o preço do minuto da ligação de longa distância caiu para 15 centavos de dólar -contra 1,35 da Argentina;
* o preço da chamada para os EUA é US$ 1,20/minuto (US$ 2,29 na Argentina);
* embora a CTC tenha reduzido drasticamente o número de empregos, o número global de empregados do setor aumentou de 7.000 para 9.000 e a remuneração por empregado saltou de US$ 11 mil para US$ 21 mil;
* o número de empregos indiretos aumentou de 6.000 para 27 mil;
* o valor das ações saltou de US$ 482 milhões para US$ 4 bilhões;
* a rede digitalizada passou de 37% para 100% do mercado;
* o número de linhas por cada cem habitantes saltou de 4 para 14.
Privatização
A privatização foi feita de tal maneira que permitiu à CTC manter inúmeras vantagens comparativas.
Hoje em dia, a ex-estatal responde por 94% do mercado de telefonia local, 30,6% na longa distância nacional, 20,4% da internacional e 51% do celular.
Todas as partes ganharam porque o mercado de telefonia ganhou como um todo. De 1,2% do PIB, sua participação subiu para 2,4%.
Cláusulas na regulação permitiram atender regiões de menor densidade. E uma visão estratégica apurada levou o Chile a se ligar a uma das grandes redes mundiais de telecomunicações.

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