São Paulo, sexta-feira, 12 de abril de 1996
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Dignidade anônima

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O prefeito paulistano, Paulo Maluf, merece uma menção no livro dos recordes. É campeão mundial de impropriedades, para usar a palavra mais suave que encontrei no "Aurélio" para as circunstâncias.
Do "estupra, mas não mata" ao "congestionamento é progresso", o prefeito revela fenomenal capacidade para acumular bobagens por sílabas.
Agora, ataca de fiscal de muro de colégio e diz que, se fosse professor, pintaria o prédio.
É notável. O poder público municipal, do qual Maluf é o titular, revela-se absurdamente incompetente para zelar por seus bens, mas quem deve pagar o pato (a pintura no caso) é o professorado, na visão do prefeito.
Foi até elegante a professora que reagiu dizendo que, se ganhasse um salário digno, bem que pintaria o muro. Fosse outra, diria que Maluf deveria sair por aí pintando todos os muros públicos cobertos pelos mais diferentes tipos de sujeira.
Se é que as pichações são de fato uma prioridade em uma cidade tão carregada de carências como o é a que Maluf administra.
Não satisfeito em transferir o ônus de suas falhas para o funcionalismo, Maluf ainda deu a clássica "carteirada", exigindo o nome da professora que o contestou.
É explicável, embora não justificável: quem se habituou ao longo e proveitoso convívio com o autoritarismo tem dificuldade em lidar com a divergência.
Agora, é torcer para que Maluf chame a professora a seu gabinete, mas não para puni-la. Se tiver um pingo de bom senso, o prefeito deveria é convidá-la para fazer parte de sua assessoria pessoal.
Afinal, se houvesse menos pessoas dispostas a dizer "amém, sim senhor" a todas as barbaridades ditas e feitas pelas autoridades desta infeliz República, certamente o país seria bem melhor do que é.

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