São Paulo, segunda-feira, 15 de abril de 1996
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Disputa em São Paulo é no voto-a-voto

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-deputado estadual quercista João Leiva disputava ontem voto-a-voto com o deputado federal governista Alberto Goldman indicação para candidato do PMDB à Prefeitura de São Paulo.
Até as 21h, com 7 das 10 urnas apuradas, Leiva tinha 671 votos, contra 662 de Goldman. Faltavam contar os votos de três urnas.
Até a quinta urna, o deputado federal liderava com 500 votos contra 465 do adversário.
Esse resultado parcial havia surpreendido até os adeptos de Goldman, que no meio da tarde admitiam em conversas reservadas vantagem mínima para os quercistas.
Goldman foi apoiado pela ala do PMDB que é ligada ao Palácio do Planalto. Entre os principais articuladores de sua candidatura está o deputado Luiz Carlos Santos, líder do governo na Câmara.
Leiva teve a seu favor na prévia o empenho total do ex-governador Orestes Quércia, que pela primeira vez teve sua liderança ameaçada de fato no PMDB paulista.
Torcidas
Desde a manhã, torcidas dos candidatos trocaram ofensas diante da Câmara Municipal.
Mais agressivos, os militantes do agrupamento quercista MR-8, gritavam contra o "adesismo" de Goldman. Tranquilo, o deputado fingia não ouvir as provocações.
O momento mais tenso ocorreu quando Goldman reclamou com a vereadora Lídia Corrêa, ligada ao MR-8, que havia sido tocado por um militante do agrupamento.
"Não enche o saco", respondeu a vereadora. "Não enche o saco você", devolveu o deputado.
Não houve economia de gastos na prévia marcada por suspeita de compra de votos. Leiva calcula que alugou uma centena de kombis para transportar eleitores.
Uma perua que distribuía camisetas para a claque de Goldman servia também para a entrega de sanduíches a seus cabos eleitorais.
Ao votar pela manhã, Luiz Carlos Santos evitou na saída o corredor polonês do MR-8. "O partido está acabando em São Paulo e só a vitória de Goldman pode animar o PMDB de novo", disse.
O governista contou durante o dia com cabos eleitorais mais ilustres. Pediam votos para ele, entre outros, o deputado federal Aloysio Nunes Ferreira Filho e o ex-deputado estadual Arnaldo Jardim.
"A votação está apertada, mas vai ganhar a ala que não é adesista ao governo federal", disse Leiva.
Goldman afirmou que sua expectativa era de um vitória com 55% dos votos. Mesmo assim, a segurança não era total.
"Existem muitos movimentos subterrâneos que levam votos de um lado para o outro", declarou.
Desbancar Quércia
O raciocínio do grupo de Santos e Goldman era de que um revés de Leiva na prévia paulistana seria a senha para avançar sobre o quercismo no interior do Estado e, assim, desbancar o Quércia da liderança do PMDB de São Paulo.
Embora seu verdadeiro reduto -ou que o resta dele- esteja no interior, o ex-governador também sempre manteve o PMDB paulistano com mãos amigas.
A cisão do quercista José Aristodemo Pinotti com o chefe complicou a indicação de Leiva. Terceiro colocado no primeiro turno da prévia, Pinotti declarou neutralidade na rodada final, mas seus colaboradores mais próximos pediram o voto em Goldman.

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