São Paulo, quinta-feira, 18 de abril de 1996
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Confronto mata pelo menos 19 no Pará

WAGNER OLIVEIRA
FÁBIO ZANINI

WAGNER OLIVEIRA; FÁBIO ZANINI
DA AGÊNCIA FOLHA

Conflito aconteceu quando policiais militares tentavam liberar rodovia ocupada por trabalhadores

Um confronto entre a Polícia Militar e sem-terra, por volta das 17h de ontem, no município de Eldorado de Carajás (leste do Pará), deixou pelo menos 19 mortos e vários feridos, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Pará.
Segundo informações do Hospital Elcione Barbalho, da cidade vizinha de Curionópolis, haviam chegado 18 corpos de trabalhadores sem terra até as 21h45.
A direção estadual do MST (Movimento Nacional dos Trabalhadores Sem Terra) diz que o número de mortos é de cerca de 60.
"Os corpos têm várias perfurações de bala, inclusive na cabeça. É provável que o número de cadáveres aumente", disse o médico Faisal Saemem, do hospital.
O secretário de Segurança Pública do Pará, Paulo Sette Câmara, afirmou que, pelas informações que obteve da delegacia de Curionópolis, "o quadro é assustador".
Até disse que até as 22h15 não havia conseguido falar com o comandante da operação no local para saber mais detalhes sobre o confronto e para saber se houve excesso da polícia.
Vítimas fatais
"Ainda não temos uma avaliação precisa, mas um companheiro que esteve no local afirmou que as vítimas fatais foram muitas", afirmou Charles Trocati, da direção estadual do MST no Pará.
Câmara afirmou que os primeiros socorros foram prestados em Eldorado de Carajás. Os policiais e sem-terra feridos estavam sendo transferidos para Marabá -distante 80 quilômetros de onde ocorreu o conflito.
O confronto ocorreu no instante em que cerca de 200 policiais militares tentavam desimpedir a rodovia PA-150. A estrada tinha sido interditada por cerca de 3.500 sem-terra no início da tarde de ontem, segundo o MST.
Segundo o secretário de Segurança, os policiais foram recebidos a tiros, pauladas e pedradas pelos sem-terra. O MST afirma que os policiais começaram o tiroteio e que os sem-terra usavam apenas enxadas e foices.
Câmara afirmou que os policiais foram obrigados a reagir para se defender. "É lamentável que os sem-terra tenham tomado essa atitude de confronto após tanta negociação para resolver o problema de terra no Estado", afirmou.
Caminhada
Os sem-terra estavam em caminhada para Marabá. Eles saíram há dois dias do município de Curionópolis, onde reivindicam a desapropriação da fazenda Macaxeira.
Hoje, eles teriam em Marabá encontro com o superintendente estadual do Incra, Valter Cardoso, que daria uma posição sobre o processo de desapropriação da fazenda Macaxeira.
A interdição da estrada começou anteontem. Os sem-terra pararam no km 100, a oito quilômetros de Eldorado do Carajás. Após negociação com a PM, eles acamparam no acostamento.
No início da tarde de ontem, voltaram a ocupar a rodovia e reivindicar 50 ônibus para transportá-los até Marabá. Pediam, segundo a polícia, dez toneladas de alimentos.
Câmara afirmou que o governo não podia tolerar o bloqueio da PA-150, que é a principal ligação do sul do Estado com Belém.
Câmara afirmou que o processo de desapropriação da fazenda Macaxeira já dura um ano e quatro meses e que está em fase final de aprovação no Incra, em Brasília, para desapropriação da área.

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