São Paulo, quinta-feira, 18 de abril de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Violência nos estádios

PAULO ROBERTO FARIA LIMA

Muitas vezes, a polícia não consegue conter a fúria das torcidas
Ultimamente tem se tornado um pesadelo sairmos de casa com o filho, um amigo ou um grupo de colegas para ir ao estádio e assistir a uma partida de futebol.
Não sabemos se voltaremos vivos para casa. De repente podemos ser envolvidos num bate-boca de arquibancada, onde determinada torcida organizada começa a agredir torcedores de outro time. Quando menos esperamos, a confusão começa a se alastrar, indo dos palavrões para socos e pontapés, terminando, muitas vezes, com a morte de jovens. Perguntamos: "Meu Deus, mas o que é isto? O que fizeram do nosso futebol?"
O que antes era alegria e descontração, acabou virando medo e terror. Em muitas ocasiões, a polícia não consegue conter a fúria das torcidas e a tragédia da violência traz prejuízos para todos. Tudo isso tem descaracterizado o nosso futebol, impedindo-o de cumprir sua função social.
Diante desse quadro e, principalmente, do assustador crescimento da violência nos estádios é que apresentamos, em abril do ano passado, um projeto de lei que visa criar medidas para minimizar a ação das torcidas organizadas em nossos campos de futebol.
Nesse contexto, a Federação Paulista de Futebol anunciou determinações no sentido de coibir abusos. De lá para cá, a violência diminuiu. No entanto, verificamos que não existe legislação específica que procure normatizar e disciplinar as atividades esportivas.
Procuramos então ampliar o debate sobre a questão e, após reuniões com os grupos interessados na problemática, elaboramos, em conjunto com o Batalhão de Choque da Polícia Militar, o Projeto Antiviolência, com base na legislação argentina e com o apoio da Federação Paulista de Futebol.
Não se trata de um projeto simplista, que apenas proíbe camisetas, faixas, bandeiras, como querem enfatizar alguns. Mas busca estender ao máximo o combate às causas que propiciam a emergência da violência nos estádios.
Desde novembro do ano passado o Projeto tramita na Câmara Municipal, mas, por motivos eleitoreiros e outros interesses, boa parte dos vereadores faz rigorosa oposição ao projeto em questão (o mais abrangente até hoje apresentado no Legislativo paulistano).
Enquanto isso, os vereadores oponentes acreditam que mais vale conquistar os votos das torcidas organizadas do que fazer valer o senso de responsabilidade, apoiando o nosso projeto que visa proteger a vida humana e resgatar o futebol-arte, o futebol-prazer.

Texto Anterior: Troca-troca
Próximo Texto: Problema é da produção local, diz instituto francês
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.