São Paulo, quinta-feira, 18 de abril de 1996
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Índios ensinam asseio pessoal

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo menos num aspecto os selvagens da América deram lições aos europeus: o asseio pessoal. Em "O Limpo e o Sujo", Georges Vigarello fala do impacto que o contato com os povos das regiões tropicais tiveram sobre a visão européia de higiene e saúde.
Ele cita, por exemplo, uma passagem do "Émile", de Rousseau: "Multidões de povos lavam os filhos recém-nascidos nos rios ou no mar, simplesmente. Mas os nossos, amolecidos antes de nascer pela moleza dos pais e das mães, trazem, ao vir ao mundo, um temperamento já mimado".
A idéia que prevalece, então, não é tanto de limpeza. É a de que os banhos frios energizam os corpos, reforçando-lhes o vigor.
No mesmo contexto (Iluminismo do século 18), exaltavam-se os povos antigos, amantes da água fria: "Enquanto os romanos, ao sair do Campo de Marte, iam lançar-se no Tibre, foram os donos do mundo. Porém os banhos quentes de Agripa e de Nero pouco a pouco fizeram deles escravos", dizia um manuscrito médico de 1764.
Vigarello podia ter citado "Casa Grande & Senzala" (1933), em que Gilberto Freyre sublinha a boa influência das índias sobre o asseio dos portugueses: "Da cunhã é que nos veio o melhor da cultura indígena. O asseio pessoal. A higiene do corpo (...). O brasileiro de hoje, amante do banho e sempre de pente e espelhinho no bolso, o cabelo brilhante de loção ou de óleo de coco, reflete a influência de tão remotas avós".
(JGC)

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