São Paulo, sábado, 20 de abril de 1996
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Legista diz que sete foram assassinados

IRINEU MACHADO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MARABÁ

O médico legista Nelson Massini, 48, membro da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, disse que há "indícios de execução" em sete dos 19 corpos de sem-terra que examinou.
Esses indícios, segundo ele, são tiros pelas costas em duas das vítimas, disparos à queima-roupa em outras duas e ferimentos fatais de corte em várias delas.
"É um exagero. Há casos que indicam claramente que as vítimas estavam dominadas e foram mortas com suas próprias ferramentas, como facas e foices. Temos dois casos de tiros pelas costas, um na região da nuca, o que configura execução", afirmou o médico.
Segundo Massini, a maioria dos disparos nos 19 corpos atingiu o tórax e a cabeça das vítimas. "Isso mostra que os disparos não tiveram nenhum objetivo de amedrontar, e sim de abater mesmo as pessoas. Isso é evidente pelos casos que analisamos", declarou.
Massini exigiu a reabertura dos caixões à tarde, pouco antes do horário previsto para eles serem transferidos de Marabá a Curionópolis, onde seria o enterro.
Ele levou cerca de quatro horas para examinar os corpos.
Dois legistas de Belém e uma equipe da Polícia Técnica já haviam examinados os corpos entre 17h de anteontem e 3h de ontem.
Depois de reclamar que tinha sido impedido pela polícia de ver os laudos, Massini conseguiu autorização do Instituto Médico Legal. A equipe que fez o primeiro exame não quis dar entrevistas.
Mais balas
Massini pela manhã. Ele disse que queria confirmar se não havia mais balas ainda depositadas nos corpos e se suas avaliações chegariam às mesmas conclusões dos laudos oficiais.
O advogado Percílio de Souza Lima, representante nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana do Ministério da Justiça, esteve ontem à tarde no Batalhão de Polícia Militar em Marabá para se certificar de que as armas utilizadas pelos policiais militares no conflito estavam apreendidas.
"Nós confirmamos a apreensão de nove metralhadoras, 25 fuzis e vários lançadores de bombas de gás lacrimogêneo", disse.
A pesquisadora da Anistia Internacional para a América Latina, Alison Sutton, 36, acompanhou a visita ao Batalhão da PM.
Três dos trabalhadores sem-terra feridos que estavam internados no Hospital Celina Gonçalves receberam alta ontem.
Outros três, todos feridos a balas nas pernas, continuavam sob atenção, assim como dois policiais militares.
Em Marabá, outros dez feridos continuavam internados.

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