São Paulo, sábado, 20 de abril de 1996
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Corpo tem o crânio esmagado

IRINEU MACHADO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MARABÁ

A reportagem da Agência Folha teve acesso a documentos que fazem parte de 5 dos 19 laudos técnicos do Instituto Médico Legal sobre os sem-terra mortos. Entre as conclusões da equipe, constavam anotações como "tiro à queima-roupa" e "esmagamento do crânio".
Os laudos, feitos pelos legistas e a Polícia Técnica, não apresentavam os nomes das vítimas. Elas eram identificadas por números.
A vítima identificada como "nº 6" apresentava no laudo um desenho com os locais do corpo atingidos por tiros. Uma bala foi encontrada ao lado direito do olho direito. Uma seta indicava o detalhe anotado: "à queima-roupa".
A mesma vítima apresentava um tiro no lado direito da nuca. Segundo policiais civis, o disparo teria sido feito a cerca de dez centímetros do alvo.
A vítima "nº 07" levou quatro tiros na cabeça, segundo o laudo.
A ficha da vítima identificada como "nº 12" apontava "esmagamento do crânio com perda do hemicrânio e hemiface esquerda", ou seja, metade do crânio e metade do rosto estavam mutilados.
Policiais comentavam que o "nº 12" era Oziel Alves Pereira, considerado como um dos líderes dos sem-terra na região.
Um dos sem-terra feridos que estava ontem internado no Hospital Celina Gonçalves, Enos Pereira Brito, 20, disse que Oziel Pereira era o líder do grupo.
Espancamento
Ele disse que soube por intermédio "de companheiros" que Pereira foi visto sendo algemado e espancado pelos policiais militares, antes de ser levado de carro para longe do local do conflito.
Outros laudos apontavam tiro no peito na altura do coração da vítima "nº 17" e perfuração a faca na região pubiana e corte profundo na coxa esquerda do "nº 19".
Os documentos estavam sendo utilizados para a elaboração dos atestados de óbito das vítimas.
Os corpos de 19 sem-terra mortos durante o confronto foram liberados às 18h15. Do Instituto Médico Legal de Marabá, os caixões seguiram em cortejo para Curionópolis para serem enterrados.
Apesar de os sem-terra afirmarem haver mais corpos, o delegado José Guilherme Marques Tavares, 37, dizia em Marabá que havia, confirmadas, 19 mortes. Segundo ele, as buscas policiais, até 18h30, não haviam encontrado o corpo.

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