São Paulo, sábado, 20 de abril de 1996
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'El Censor' revela a censura na Argentina durante a ditadura

Eduardo Calcagno fala de seu novo filme

CELSO FIORAVANTE
ENVIADO ESPECIAL A CHICAGO

O diretor argentino Eduardo Calcagno não tem compaixão de seu espectador ou da recente história argentina que retrata em seu mais novo filme.
"El Censor" é sobre um homem responsável por censurar os filmes durante a ditadura militar na Argentina durante os anos 70 e 80. Durante as parcas três semanas em que esteve em cartaz na Argentina, o filme teve apenas cerca de seis mil espectadores.
"O argentino não quer ver seu passado nas telas. Prefere fazer como os avestruzes, enfiar a cabeça na terra e não ver nada do que se passa à sua volta. Aos argentinos não interessa ver filmes sobre desaparecidos ou a guerra nas Malvinas", disse o diretor à Folha.
"El Censor" é a história de Raúl Vairabé, que em 1977 é o chefe da censura aos filmes na Argentina. Vairabé tem cerca de 50 anos e é apaixonado por uma atriz que faz pontas em vários filmes.
Em uma das sessões de censura, Vairabé cai em um vácuo de tempo e volta oito anos depois, sem censura e com sua amada já transformada em atriz pornô.
"A idéia do filme foi mesclar o drama humano do personagem e o drama político. Muitas vezes isto é um risco e talvez tenha sido o meu erro, que levou à baixa audiência. Como diretor, também sofri esse conflito interno, mas foi um conflito criativo e não ideológico", disse o diretor de "Los Enemigos" (1983) e "Te Amo" (1986).
Segundo Calcagno, desde outubro de 1994 a Argentina possui uma nova lei que deve aportar cerca de US$ 40 milhões para a produção de filmes, mas também para manutenção do sistema cinematográfico argentino. "A TV argentina também investe, mas apenas em filmes com verdadeiras expectativas de sucesso. Ninguém faz altruísmo econômico com o cinema", disse.
"Devemos mudar nossa idéia de como fazer cinema. Devemos reconquistar o espectador pois as novas linguagens e os novos meios são muito mais interessantes para o espectador que o cinema. Em tempo de fast-food das imagens, o cinema perde seu interesse."
Programação O 12º Chicago Latino Film Festival prossegue com a reapresentação de "Menino Maluquinho", de Helvécio Ratton, e a exibição de "Casas de Fuego", do argentino Juan Batista Stagnaro; "Aguilas no Cazan Moscas", do colombiano Sergio Cabrara; "Desnudo con Naranjas", do venezuelano Luis Alberto Lamata; "Nueba Yol", do porto-riquenho Angel Muñiz; "En tu Casa a las 8", da chilena Christine Lucas; e "Mecanicas Celestes", de Fina Torres.

O jornalista Celso Fioravante viajou a convite da organização do festival

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