São Paulo, sábado, 20 de abril de 1996
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O grande culpado

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - É repugnante ouvir o presidente da República condenar o massacre dos sem-terra do Pará. Seria espantoso se ele abençoasse o crime, mas seria, talvez, mais coerente.
Afinal, FHC foi eleito com um programa e está governando com outro. A única reforma que ele não pretende fazer é a agrária: trocou-a pela reforma da cabotagem (até hoje não se sabe para que), pela reforma dos direitos sociais dos trabalhadores, promove todas as reformas menos a única que interessa.
Pensando bem, quando se falava em reforma, até bem pouco, pensava-se na reforma agrária, considerada a única que pode realmente levar o país a uma situação de estabilidade econômica e social. É tão primário repetir isso que fico envergonhado. Vergonha por mim, vergonha por todos.
Bastaria uma parcela do dinheiro que foi salvar bancos mal-administrados e premiar banqueiros desonestos, bastaria metade do tempo e da energia que FHC dedica à politicagem mais desvairada (reeleição, meus amigos, fiquemos no poder que a oposição não é de nada, tenho o "Diário Oficial" para isso), bastaria um presidente mais esclarecido e consciente para que a reforma agrária saísse do papel.
Vi FHC na TV dizendo que ficou com raiva em Corumbá quando lhe perguntaram sobre a reeleição. Prêmio Nobel de hipocrisia. Eu também fiquei com raiva quando o vi, na Argentina, semana passada, iniciar oficialmente a campanha pela própria reeleição. Não foi a imprensa que inventou ou levantou o tema. E todos sabemos que não há, dentro do Planalto, prioridade maior do que a continuação desse grupo no poder.
O país está sem governo -essa é a verdade. FHC acredita que tem charme suficiente para esconder a realidade. Mas a realidade está aí: bilhões para o Nacional, bilhões para o Econômico e rajadas de metralhadoras para os sem-terra.

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