São Paulo, terça-feira, 23 de abril de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FHC assume parte da culpa por massacre e recebe vaia

WILLIAM FRANÇA
ENVIADO ESPECIAL A PORTO SEGURO (BA)

O presidente Fernando Henrique Cardoso assumiu ontem em discurso parte da culpa pelo massacre de sem-terra no Pará e foi vaiado por manifestantes.
"Está na hora de todos assumirmos as responsabilidades, (...) assumamos nós todos a culpa de não termos sabido conversar, de não termos sabido impor as necessidades do povo", disse FHC durante a comemoração do descobrimento do Brasil, em Porto Seguro (BA).
Pouco mais de 200 pessoas chamaram o presidente de "cara-de-pau". FHC classificou as lideranças de sem-terra que protestavam de "pequeno punhado de gente, que, coitados, não sabem o que falam".
Para o presidente, "o governo está pondo para fora os esqueletos da podridão" e que não está na hora "de explorar cadáveres". Segundo FHC, "está na hora, sim, de chorar cadáveres e impedir que eles se repitam".
A cerimônia em Porto Seguro teve de ser modificada às pressas. Como soube que haveria manifestação, FHC pediu que o chefe da Casa Militar, general Alberto Cardoso, conversasse com as lideranças do movimento tão logo a comitiva chegasse à cidade.
"A idéia foi para dizer que chegou o momento da virada, todos têm de estar de mãos dadas", disse o general, responsável pela segurança do presidente.
Segundo ele, a liderança se comprometeu a participar sem agressões, num gesto de "confiança e boa vontade" e por isso os manifestantes puderam se aproximar.
A aproximação das bandeiras e manifestantes foi tanta -cerca de três metros- que causou espanto ao senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA).
Em discurso, ACM disse que os sem-terra "estavam ali para perturbar a ordem".
Índios
FHC abordou também a questão das terras indígenas: "Quero dizer que vamos cuidar dos interesses deles (índios) porque são os filhos da terra e têm direito àquilo que imemorialmente foi deles".
Sem citar o decreto que permite a revisão das áreas indígenas demarcadas, o presidente lembrou que "nenhum país do mundo tem" o que o Brasil tem: 11% do seu território demarcado para os índios.
FHC foi levado a tratar do assunto porque cerca de 200 pataxós estavam presentes e entregaram a ele a "Carta Aberta Pataxó", contra o decreto 1.775. Pintados para guerra, eles fizeram um ato pacífico.
O presidente assinou ontem decreto delimitando a área do Museu Aberto do Descobrimento (Made), o primeiro parque temático natural do Brasil.

Texto Anterior: O motivo real
Próximo Texto: 'Democracia é dizer sim a FHC'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.