São Paulo, terça-feira, 23 de abril de 1996
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PF vê fraudes no Nacional

Para polícia, operações podem acobertar retirada de capital

FERNANDO PAULINO NETO
DA SUCURSAL DO RIO

A Polícia Federal e a Procuradoria da República suspeitam que as fraudes de créditos fictícios do Banco Nacional possam ter servido não só para maquiar os balanços, mas para disfarçar uma descapitalização (retirada de capital).
O que leva as duas instituições, que investigam conjuntamente a notícia-crime do BC (Banco Central) sobre os créditos fictícios, a supor que possa ter havido descapitalização é o alto volume de créditos fictícios, em torno de R$ 5 bilhões, segundo o BC. O patrimônio do banco era de R$ 1 bilhão.
Tanto a PF quando o Ministério Público (Procuradoria da República) estão certos de que houve crime de fraude contábil no Nacional.
O que confirma o crime é o depoimento de cerca de 30 correntistas do Nacional que contam, quase unanimemente, a mesma história.
A questão, na segunda fase do inquérito policial, é saber se além de fraude contábil há também fraude financeira (caracterizada pela tentativa de desviar dinheiro do banco para o exterior, por exemplo).
Todos fizeram um empréstimo com o Nacional e foram cobrados judicialmente pelo banco. A partir daí, o Nacional foi cobrando juros e adiando sucessivamente os prazos de vencimento dos empréstimos, chegando, por operação, no final de 95, a valores que variam entre R$ 7 milhões e R$ 8 milhões.
Com o convencimento de que há crime, a PF deve começar a ouvir os altos funcionários do Nacional dentro de cerca de dez dias, quando o inquérito, enviado ontem à Justiça, deve voltar à PF. Hoje será definido um juiz para o caso.
Os primeiros que devem ser ouvidos na segunda fase do inquérito são o ex-vice-presidente de Operações do Nacional Arnoldo de Oliveira e o diretor Gilberto Corrêa, reaproveitado pelo Unibanco.
Oliveira, que era o responsável pela administração do banco a partir de 1988, e Corrêa tinham depoimento marcado para a semana passada, mas pediram adiamento.
Na primeira fase do inquérito, o depoimento mais importante foi do ex-gerente de controle financeiro Omar Bruno Corrêa, que apontou o ex-vice-presidente de Controladoria Clarimundo Sant'Anna como responsável pelos créditos fictícios.
Corrêa, que assinava comunicados internos do Nacional ordenando alterações nas datas de vencimento de empréstimos, disse que não sabia para que eram feitas as mudanças. A avaliação é que ele não contou mais do que 30% do que sabe em seu depoimento.

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