São Paulo, terça-feira, 23 de abril de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Covas desiste de acordo

Para governador, demora inviabilizou o negócio com o BC

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador de São Paulo, Mário Covas, não aceita mais o acordo que havia firmado com o Banco Central, em dezembro último, para que o Banespa fosse devolvido ao governo paulista.
Sem acordo, o problema, em sua natureza, volta ao ponto em que se encontrava em 30 de dezembro de 1994, quando o BC decretou a intervenção.
O Banespa somente será saneado e poderá funcionar normalmente, federalizado, privatizado ou sob controle paulista, se aquela dívida for de algum modo resolvida.
Para Covas, o acordo de dezembro último desmoronou por causa do atraso na sua implementação.
Primeiro, o Senado demorou-se na votação do projeto que autoriza o governo federal a emprestar R$ 7,5 bilhões ao governo paulista.
São Paulo utilizaria esse dinheiro para pagar metade da dívida que tinha com o Banespa em dezembro de 1995, de R$ 15 bilhões.
A dívida hoje, pela incidência diária de juros, chegou a R$ 18 bilhões. Ou seja, mesmo que o Senado aprove o atual projeto, estarão faltando R$ 3 bilhões.
Além disso, Covas tem autorização de sua Assembléia Legislativa para tomar empréstimo de R$ 7,5 bilhões, e nada além disso.
O segundo ponto do acordo que não foi cumprido, na visão de Covas, é de responsabilidade do BNDES. Em 29 de março último, deveria ter sido assinada a venda da Fepasa para o BNDES.
O BNDES adiantaria por isso R$ 3,6 bilhões ao governo paulista, que passaria esses recursos ao Banespa. O acerto parou na área técnica do BNDES.
O terceiro ponto que também não se concretizou foi a aquisição, pela Infraero, dos aeroportos de Congonhas, Cumbica e Viracopos. Como fica a situação agora? Ontem, perguntado se estava desistindo de ter o Banespa de volta ao controle de seu governo, Covas subiu no muro.
Disse que desistia do acordo. E acrescentou que não queria passar a imagem de que estava simplesmente fazendo pressão sobre o Senado e o governo federal.
Mas seu gesto é uma pressão. Um de seus colaboradores comentou que se o governo federal assumir os R$ 3 bilhões de dívida adicional, o negócio fica de pé de novo.
Mas Covas efetivamente abandonou a posição de exigir o Banespa de volta a qualquer custo. Ele sabe que o problema não é apenas dele. É do governo federal, que não pode deixar quebrar um banco do porte do Banespa.

Texto Anterior: Mantida restrição a bancos
Próximo Texto: Ação do Banespa cai 13,9%
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.