São Paulo, terça-feira, 23 de abril de 1996
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Ex-PCI realiza seu velho projeto

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A lira foi ontem a única moeda européia a ser cotada em alta com relação ao dólar. Na Bolsa de Milão, as ações de empresas italianas subiram em média 5%.
Os ex-comunistas, 77 anos depois da primeira fundação de seu partido, davam as vértebras à coalizão que havia chegado ao poder.
Há um curioso paradoxo na maneira pela qual o mercado reagiu às legislativas de domingo.
Bem menos que um verniz de uma ex-esquerda marxista reconvertida ao reformismo, os aplicadores saudavam, em verdade, a possibilidade de entrarem num período de estabilidade política.
O provável primeiro-ministro Romano Pradi, um economista sem filiação partidária, acabou circunstancialmente costurando um "compromisso histórico" que nos anos 70 o então PCI (Partido Comunista Italiano) procurava fechar com a Democracia Cristã.
Na época, o líder comunista era Enrico Berlinguer e seu interlocutor na DC o centrista Aldo Moro, sequestrado e assassinado pelas Brigadas Vermelhas em 1978.
Massimo D'Alema é hoje o secretário-geral do PDS (Partido da Esquerda Democrática), criado em 1991 durante um congresso partidário em que o PCI mudou de nome e abandonou suas doutrinas.
A União Soviética já estava morta -os comunistas italianos romperam com ela em 1982-, e a idéia de revolução não passava de uma alegoria anacrônica.
O PCI sempre foi um partido singular na história da esquerda européia. Com Berlinguer (1922-1984), passou a defender a Aliança Atlântica, montada pelos Estados Unidos justamente para impedir que um dia o Exército Vermelho avançasse sobre a Europa Ocidental.
Antes disso, condenara a invasão soviética na ex-Tchecoslováquia (1968) e depois a aventura geopolítica que levou Leonid Brejnev a enviar tropas ao Afeganistão.
Na economia, defendia privatizações -como a das hortas que forneciam verduras para os restaurantes das auto-estradas-, para aliviar o Estado italiano de sua proverbial ineficiência.
O partido de Berlinguer, e depois dele Alessandro Natta e Achile Occhetto, já era parte integrante do establishment italiano.
Em 1976, quando obteve seu melhor desempenho nas urnas (34,4% dos votos), governava seis das 20 regiões e controlava as prefeituras de 870 cidades com mais de 5.000 habitantes.

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