São Paulo, terça-feira, 23 de abril de 1996
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Saem memórias de François Mitterrand

Volume póstumo faz defesa da Alemanha

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DE PARIS

A "utopia" de uma Europa unificada em torno da Alemanha e da França foi uma das últimas preocupações de François Mitterrand. O tema ocupa 250 páginas de "Da Alemanha, Da França", um dos dois livros de memórias do presidente morto em 8 de janeiro, que chegam hoje às livrarias francesas.
Mitterrand dedicou boa parte de seus últimos meses de vida às memórias -"Da Alemanha, Da França" e "Memórias Interrompidas", publicadas pelas Éditions Odile Jacob.
"Da Alemanha, Da França" traz a defesa da reunificação alemã como forma de fortalecer a Europa.
"Eu me sentia cômodo na dialética desse passado vivido e do futuro imaginado. Fui soldado em 1940 (contra a Alemanha), e prisioneiro. Escapei e combati na resistência. Nesses rudes contatos, aprendi a conhecer os alemães. Eu os respeitava."
Em "Memórias Interrompidas", editadas em forma de entrevistas concedidas ao jornalista Georges-Marc Benamou, o ex-presidente faz um balanço do início de sua atividade política.
Colaboracionismo
Ele se defende das acusações de ter aderido ao regime colaboracionista de Vichy (na época da ocupação nazista), fala sobre a resistência, elogia o ex-presidente Charles de Gaulle -aliado na resistência e mais tarde adversário político-, e faz uma mea-culpa de sua atuação política durante o processo de independência argelino (1954-62).
Mitterrand aproveita para justificar seu trabalho como funcionário público no regime de Vichy, na época em que Philippe Pétain era chefe de Estado.
"Quando Pétain chegou ao poder, eu pensava, como quase todo mundo, que ele poderia proteger a França. Tínhamos o sentimento de que ele era anti-alemão. Pelo que me concerne, eu constatei a inconsistência daquele regime, seu conformismo mesquinho, seu aspecto reacionário, sua nocividade e, rapidamente, mudei de lado."

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