São Paulo, terça-feira, 23 de abril de 1996
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Alencar e Machado

ANTONIO CARLOS DE FARIA

Rio de Janeiro - O prefeito César Maia colocou a estátua de José de Alencar de costas para o largo do Machado. O ato não foi nenhuma tentativa de realçar antagonismos que teriam existido entre os dois grandes escritores, mas apenas mais um dos exemplos do tipo de intervenção do projeto Rio Cidade.
A começar que o Machado do largo não é o de Assis, e sim um comerciante que acabou dando nome à praça.
Machado de Assis passava pelo largo a caminho do Cosme Velho, onde ficava sua casa. Assim, a proximidade da praça José de Alencar com o largo do Machado sugere uma dupla homenagem, que se não é de fato, poderia ter sido.
O projeto Rio Cidade afetou as duas localidades que ficam na área em que o Catete começa sua convivência com o Flamengo, naquilo que foi a zona sul chique do final do último século.
Por alguns meses, o trânsito ficou insuportável, criaram-se funis entre os canteiros de obras, fazendo com que o tráfego fluísse por conta-gotas armados com tapumes.
As calçadas foram interditadas e os pedestres tiveram de disputar com os carros os poucos espaços das ruas.
Terminadas as obras, inauguradas no final de fevereiro, pôde-se contemplar sua verdadeira finalidade. Mudou-se José de Alencar de um canto a outro de sua praça e agora ele não fica mais dirigindo seu olhar eterno para o Machado, cujo largo, que não era pequeno, foi aumentado de tamanho.
O largo já havia passado por obras na gestão anterior do prefeito Marcello Alencar. A sobreposição das obras espelha bem o modelo de organização política do país, que deixa o contribuinte à mercê dos governantes de plantão.
As prioridades são definidas de forma quase absolutista pelos mandatários, que carreiam as verbas públicas para aquilo que definem como o bem da comunidade, que com frequência é restrita a um pequeno grupo dos que exercem o poder.

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