São Paulo, domingo, 28 de abril de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Acreditar no Brasil

OSIRIS LOPES FILHO

Há uma característica marcante no comportamento do governo FHC: a auto-suficiência. Ela vai adquirindo traços de arrogância, em face da sua insensibilidade em relação ao Brasil real. Principalmente na sua face triste e miserável, envolvida no drama quotidiano de sobrevivência, desassistida do amparo governamental.
A chacina dos sem-terra, no sul do Pará, constitui fato emblemático da incompetência administrativa e política do governo FHC, no trato e solução dos problemas que afligem a camada mais humilde, carente e pobre do nosso povo.
A inapetência, o descaso e o despreparo evidenciam a existência de um governo imperial, a fazer salamaleques, bajulações e cortejo ao capital estrangeiro, a salvar banqueiros fraudadores, mais preocupado com sua perpetuidade no poder, do que em cumprir um mínimo do programa anunciado na campanha.
Há uma política de desvalia do patrimônio público. Destroem-se as empresas públicas e os funcionários. Busca-se o Estado mínimo, substituindo-se o servidor público por prestadoras de serviço. É a política do emprego para as pessoas jurídicas.
Valeria a pena o presidente FHC e o secretário Bresser Pereira, no intervalo de suas viagens internacionais, visitarem a Delegacia da Receita Federal em Brasília.
Lá se demonstra que chefia competente, como a do delegado Mauro Bogea, consegue, utilizando criatividade, trabalho e capacidade de mobilização, valorização e motivação do funcionário público, prestar serviços aos contribuintes de forma eficiente.
Desenvolveu-se a concepção da Central de Atendimento ao Contribuinte. Tratá-lo bem, prestar-lhe as informações solicitadas com exatidão e presteza, colocar a repartição a seu serviço, pois é ele quem sustenta o Estado. Tornar a Receita Federal um órgão respeitável, não pelo poder que detém, mas pelo desempenho.
Há instalações limpas, confortáveis, sem luxo, que primam pela organização.
Tudo isso foi feito num ambiente adverso. Clima de greve, funcionários em desprestígio, salários congelados. Bastou romper-se o dique do funcionamento vegetativo e burocrático da repartição para que ocorresse a mudança qualitativa.
É momento de lá comparecerem o presidente FHC e seu auxiliar Bresser Pereira, para verem que o Brasil é viável, por suas próprias forças, e que o nosso funcionário é produtivo e competente se lhe derem vez. É preciso acreditar no Brasil.

Osiris de Azevedo Lopes Filho, 55, advogado, é professor de Direito Tributário e Financeiro da Universidade de Brasília e ex-secretário da Receita Federal.

Texto Anterior: Banerj, um modelo e um exemplo
Próximo Texto: Mais fraco o consenso pró-reformas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.