São Paulo, domingo, 28 de abril de 1996
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Mulheres reconhecem pais "certos" pelo cheiro do suor, mostra estudo

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Roupas da moda, carros e toda a parafernália de sedução usada pelo homem moderno ainda não alteraram um dos fatores básicos de seleção natural na espécie humana: a mulher recorre ao olfato quando escolhe o pai de seu filho, e essa escolha também influencia a saúde da prole do casal.
O cheiro do homem pode tanto atrair como repelir a mulher. Chega a ser "excitante" em alguns casos, ou mesmo "insuportável".
Isso não tem nada a ver com o perfume que se usa, mas com um odor natural, que está relacionado a um certo tipo de genes, os MHC. A constatação é do zoólogo suíço Claus Wedekind, 30. Ele afirma que o cheiro atua como uma espécie de "sinal" dos MHC, cuja principal função no organismo é codificar substâncias que ajudam no sistema de defesa contra doenças.
Wedekind mostrou que a mulher em geral prefere o cheiro de homens com MHC o mais diferente possível do dela.
Variedade genética
Esse tipo de escolha aumentaria os tipos de genes do MHC (leia texto ao lado) nos filhos, e essa variedade genética resultaria em uma defesa imunológica melhor.
"Quando as mulheres que testamos sentiam um cheiro que gostavam, de homens com genes diferentes, lembravam dos atuais ou de antigos namorados", disse Wedekind por telefone à Folha.
"Isso indica que o MHC ainda tem hoje um papel importante na escolha do parceiro." Zoólogo, Wedekind fez essa descoberta ao aprofundar uma pesquisa que estava desenvolvendo com peixes. Aparentemente, neles também há a emissão de algum sinal para que a fêmea escolha um macho com MHC diferente.
Mas como os peixes não falam, foi necessário apelar para um modelo alternativo.
Homens e mulheres foram utilizados como "cobaias" para se descobrir se o MHC determina os odores e se estes influenciam as preferências das mulheres.
"Sabemos bastante sobre o sistema imunológico dos seres humanos e podemos perguntar aos homens e mulheres quais são suas preferências por cheiros."
Teste
Para conhecer as preferências, foi feito um experimento com 44 homens e 49 mulheres, estudantes da Universidade de Berna, Suíça, onde Wedekind é professor. Foi feito exame de sangue para tipificar o MHC de cada um.
Segundo o zoólogo, os estudantes escolhidos eram de cursos diferentes, de tal forma que tinham pouca chance de se conhecer.
Os homens receberam camisetas de algodão (o artigo publicado no Reino Unido na revista "Proceedings of The Royal Society" indica até a marca da camiseta usada).
Para evitar a interferência de outros fatores no cheiro, também foi fornecido sabão neutro e alimentação. Os homens também não deviam usar desodorante, fazer sexo, dormir acompanhado ou fumar durante o experimento.
Por duas noites consecutivas, os homens dormiram com a camiseta, que depois entregaram dentro de um saco plástico.
"O Perfume"
As mulheres também foram preparadas, antes de se submeterem à sessão de cheirar as camisetas.
Durante duas semanas usaram um medicamento especial para regenerar células olfativas, tomaram vitaminas para evitar resfriados e foram aconselhadas a ler o romance "O Perfume", de Süskind, "para sensibilizar sua percepção".
Ao cheirar as camisetas, as mulheres deveriam estar no 14º dia após a menstruação -período fértil, quando as narinas desempenhariam melhor sua função.
Sozinha numa sala, cada mulher deu notas para intensidade do cheiro e opinaram se ele era agradável ou não.
Os cheiros considerados agradáveis -o daqueles homens que tinham MHC diferentes dos verificados nas mulheres- faziam com que elas lembrassem duas vezes mais de seus namorados ou ex-namorados.

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