São Paulo, domingo, 28 de abril de 1996
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Anticoncepcional faz nariz se "enganar"

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DA REPORTAGEM LOCAL

O zoólogo suíço Claus Wedekind faz um alerta ao analisar a preferência das mulheres pelo cheiro de homens com MHC diferente do delas: as pílulas anticoncepcionais invertem esse comportamento.
A maioria dos anticoncepcionais atua elevando os níveis do hormônio estrogênio no sangue das mulheres -da mesma forma como ocorre durante a gravidez.
Wedekind evita tirar conclusões apressadas dessa observação -ele não responde, por exemplo, se uma mulher que está tomando pílulas tenderia a escolher um parceiro "errado" -ou seja, um homem que produziria filhos com menos recursos imunológicos.
Mas ele diz que, entre os camundongos, está demonstrado que, quando a fêmea está grávida, ela prefere indivíduos que sejam semelhantes a elas no MHC.
Isso se explica pela teoria da evolução. "É mais fácil criar os filhos entre parentes do que entre estranhos", afirma o zoólogo. No caso, o pai é mais estranho à mãe do que um irmão ou filho.
Há ainda uma série de estudos que mostram que o número de abortos em casais com MHC semelhante tende a ser maior. Camundongas chegam a abortar quando submetidas ao cheiro de um macho com MHC igual.
"Os dados sobre os huteritas (grupo norte-americano extremamente isolado e que condena a contracepção) mostram que há intervalos mais longos entre um nascimento e outro naquela população e que isso pode ser causado pela semelhança dos genes MHC."
Esse tipo de aborto ocorreria antes mesmo de a mulher perceber que o seu óvulo foi fecundado.
Para o zoólogo, os abortos relacionados ao MHC "poderiam ser resultado de uma 'decisão' fisiológica da mulher de investir ou não naquele bebê". Essa "decisão" levaria em conta a resistência imunológica a parasitas, por exemplo, que o bebê teria ao nascer.
"É claro que não é uma decisão consciente", afirma Wedekind.
Nos ratos foi observado ainda outro fator relacionado ao MHC. Antes de se tornarem férteis, tanto machos como fêmeas preferem indivíduos com MHC semelhante. Quando a puberdade chega, essa preferência se inverte.
O experimento da Universidade de Berna enfocou as preferências de cheiros nas mulheres -e, portanto, não testou os homens. Wedekind acredita que o mesmo comportamento -de atração ou repulsão- deve ser observado se o experimento for invertido, com homens cheirando mulheres.

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