São Paulo, domingo, 28 de abril de 1996 |
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Gangues dividem território de Val-Fourré
LUIZ ANTÔNIO RYFF
Boutrassi tem 21 anos. Trabalha na fábrica de automóveis Renault há três meses com um contrato temporário. Ganha um salário mínimo (5.000 francos, cerca de R$ 1.000). "Lá em casa ninguém trabalha, só eu", diz Boutrassi. Seu pai, demitido da Renault, recebe 2.000 francos (cerca de R$ 400) de ajuda do governo. A família de Boutrassi -sete pessoas, sendo quatro crianças- sobrevive com 7.000 francos. "Na Renault, mandaram embora os velhos e contratam os jovens. Logo vão mandar embora a gente e trocar por máquinas", diz ele. Ele não tem muitas ilusões quanto a seu futuro em Val-Fourré. Seu desejo fixo é partir para longe. "Quero ir para a América. Lá existe dinheiro", sorri. Guetos Apesar da crise econômica e social, Val-Fourré é um bairro moderno, com edifícios novos. "São guetos. Confinaram-nos aqui. Construíram isso porque precisavam de mão-de-obra. Agora não precisam mais", diz Ioussef Boutrassi, 18, primo de Said. "Agora, aqui não há mais trabalho, só violência e droga", diz. A questão racial é um ponto importante. "Em Mantes-la-Jolie há muito racismo. Aqui em Val-Fourré não tem tanto. Não tem muito francês", diz Boutrassi. Filho de marroquinos, Boutrassi nasceu em Mantes-la-Jolie, mas não se considera em casa: "Nasci na França, mas meu país é o Marrocos", diz. Armas Boutrassi lembra os conflitos de 1991 entre jovens e a polícia como um marco para a cidade. "Quebraram tudo. Agora não há mais nada aqui. Acabou", resume. Três gangues de adolescentes dividem o bairro em zonas de influência. Bastam alguns passos dentro do bairro para as drogas serem oferecidas por alguns jovens. "Os pais não têm dinheiro para dar. Então a garotada é obrigada a cometer pequenos roubos e a vender drogas", diz Boutrassi. (LAR) Texto Anterior: França tenta reerguer bairros miseráveis Próximo Texto: Conflito pôs cidade no mapa Índice |
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