São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 1996
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Exército sonegou ao governo informações sobre a guerrilha

Ministério da Justiça solicitou os documentos em 1992

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As Forças Armadas sonegaram informações ao Ministério da Justiça e não repassaram os documentos pedidos em 1992 para ajudar as famílias dos presos políticos a identificar os parentes mortos no confronto da guerrilha do Araguaia com o Exército.
O pedido foi feito no governo Itamar, quando o ministro da Justiça era Maurício Corrêa, hoje ministro do STF (Supremo Tribunal Federal). Tudo que o Exército, Marinha e Aeronáutica enviaram ao ministério foram recortes de jornais e revistas com notícias sobre as mortes de militantes de grupos políticos armados que enfrentaram o regime militar (64-85).
A Folha apurou que os arquivos do Exército possuem os documentos. Há inclusive fotos do arquivo particular de um militar que participou das campanhas do Exército, realizadas entre 72 e 75 para derrotar a guerrilha, mostrando cadáveres de militantes do PC do B.
A comissão dos desaparecidos políticos do Ministério da Justiça vai pedir às Forças Armadas documentos que possam indicar a localização dos corpos desses mortos.
Arquivos
Para o secretário-executivo da comissão, Ricardo Alvarenga, as fotos sugerem a existência de informações importantes, ainda guardadas em arquivos militares.
"Nós já iríamos tratar disso mais para a frente. Agora o processo de localização dos corpos pode ser antecipado", afirmou.
A prioridade da comissão tem sido o reconhecimento de que as pessoas morreram por responsabilidade do Estado, o que permite às famílias pedir indenização.
Segundo Alvarenga, os dados fornecidos até agora pelas Forças Armadas são fracos em informações. Ele ressalva, porém, que nem tudo foi analisado e que a comissão pode estar debruçada sobre informações valiosas.
Comentando os novos documentos, o porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, disse ontem que "o governo tem se empenhado para que as famílias dessas vítimas tenham reparações justas".
O presidente da comissão, Miguel Reale Jr., disse que as fotos não acrescentam informações sobre a localização dos corpos, mas sua publicação deve levar à solicitação de mais dados aos militares.
Para solicitar mais dados, é necessário que todas as famílias se manifestem, disse Miguel Reale Jr. A comissão, de acordo com a lei dos desaparecidos, só tem poder de solicitar informações por iniciativa das famílias: "Só não podemos solicitar mais dados que estão nas mãos de particulares".
São 64 os desaparecidos no Araguaia, de acordo com os representantes dos familiares. A lista anexa à lei dos desaparecidos políticos, aprovada em 95 pelo Congresso, reconheceu a morte de 61 deles.
Outros três -Antônio Alfaiate, Pedro Carretel e Sabino Alves da Silva- não foram reconhecidos pela lei e as famílias não pediram à comissão a inclusão dos nomes na lista oficial. As famílias de 2 dos 61 reconhecidos não pediram pagamento de indenização nem a localização dos restos mortais.

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