São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 1996
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Paixão

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Roberto Freire, não o senador do PPS-PE, mas o dublê de jornalista e psicanalista, é o autor do livro "Sem Tesão, Não Há Solução".
Deve ser por aí que se explica o absoluto fracasso, até agora, do governo Fernando Henrique Cardoso em atender à agenda social. Afinal, o chefe da Casa Civil, Clóvis Carvalho, do privilegiado posto de presidente da Câmara de Política Social do governo, acaba de confessar à Folha que "falta um pouco mais de paixão nos homens do governo em relação à questão social".
Para quem vê as coisas de fora, não chega a ser exatamente uma novidade. Reconhecê-lo do lado de dentro é outra coisa.
O pior é que essa falta de paixão é antiga. No ano passado, o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, já havia dito que o programa social do governo até então não passava de uma "masturbação sociológica".
É claro que ninguém de bom senso poderia esperar que, nos 16 meses de gestão até aqui transcorridos, FHC pudesse ter resolvido a imensa dívida social herdada de seus antecessores.
Mas a falta de paixão explica a incapacidade de inserir o tema na agenda das grandes prioridades nacionais. Só um governo de fato apaixonado pelo desafio social seria capaz de tocar no assunto todo santo dia.
O governo FHC faz o contrário. Só pensa e fala em reformas, como se elas fossem a alavanca para levar o país a um patamar menos obsceno do ponto de vista social.
É também a falta de paixão a responsável direta ou indireta pelo fato de o governo escolher seus amigos. Está cercado de gente para a qual a tal agenda social causa tanta repulsa quanto a sujeira do transporte público nos e nas socialites levados pela Folha a fazerem sua primeira incursão nessa área.
Até para "pegar no tranco", como imagina Clóvis Carvalho, é preciso paixão.

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