São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 1996
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Os sem-verba

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Nem bem tomou posse como ministro Extraordinário para Coordenação de Assuntos Políticos, Luiz Carlos Santos já deve ter hoje uma fila de parlamentares em sua porta reclamando do ministro do Planejamento, José Serra.
É que o governo está utilizando todo o tempo que tem para analisar o Orçamento Geral da União. Aprovado em 9 de abril, o Orçamento pode ser sancionado pelo presidente da República até o dia 8 de maio.
Para os parlamentares interessa outra data: 30 de junho. É o prazo limite para o governo repassar dinheiro das emendas que deputados e senadores incluíram no Orçamento para suas cidades.
São cerca de R$ 700 milhões em emendas de parlamentares neste ano. Como haverá eleição em 3 de outubro, a lei proíbe o repasse desse dinheiro depois de 30 de junho.
A demora de FHC praticamente inviabiliza a distribuição desses R$ 700 milhões que parlamentares enfiaram no Orçamento. Quase uma centena de candidatos a prefeito ficarão sem obra para inaugurar.
O governo tem, é claro, uma desculpa. Pode dizer que a demora da aprovação do Orçamento começou no Congresso. E que um assunto tão sério demanda mesmo os 30 dias facultados pela lei antes de receber a sanção da Presidência.
Tudo bem. É um argumento. Mas FHC aprendeu, a duras penas, que nem só de bons argumentos racionais se vive em Brasília.
Ontem, enquanto Luiz Carlos Santos recebia abraços pelo novo cargo, um importante líder governista apontava o dedo para as costas de Serra. "Esse aí é o responsável", dizia.
Como se sabe, deputados não precisam abrir mão do cargo para disputar uma eleição. Ainda podem votar -ou não- muitas reformas.
Caberá a Luiz Carlos Santos aplacar a fúria desse novo tipo brasiliense criado pela contenção do ministro José Serra: o sem-verba.

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