São Paulo, quarta-feira, 1 de maio de 1996
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Palmeiras escreve capítulo de história sem fim

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Acabo de pôr um ponto final nessa história do Palmeiras, que me foi encomendada pela DBA, apesar de o editor Alexandre Dória Ribeiro saber que não sou palmeirense.
Nem mesmo palmeirista, como se dizia, ainda que filho do velho Brás e sentindo correr nas veias três quartos do mais transparente frascati e um quarto do borbulhante catalão que nada fica devendo aos nobres da região de Champagne.
Na verdade, não chega a ser uma história, mas um passeio pelas histórias que fizeram a glória desse clube singular, mesmo porque a editora se esmera, sobretudo, no fino e sensível visual de seus livros de arte, culinária e, agora, futebol.
Por isso, às vésperas de mais um clássico do futebol paulista, quero menos falar do clássico de hoje entre Palmeiras e Portuguesa do que fazer uma breve e fragmentada viagem em torno das lembranças que me ficaram dessa empreitada, a partir deste momento luminoso que esse time nos oferece.
Rivaldo, por exemplo. Hoje, parece ser uma unanimidade: é o melhor jogador em atividade no futebol brasileiro. Ou, pelo menos, o mais completo avante, meia ou seja lá como queiramos catalogá-lo. Marca, arma, ataca, faz gols de falta, de cabeça, entrando com a bola dominada ou pegando sobra. E ainda nos brinda com jogadas de inexcedível beleza e surpreendente engenho.
Vejo Rivaldo e revejo Ademir da Guia, mais elegante no estilo, menos agressivo, sim, mas igualmente múltiplo, rítmico, senhor dos espaços e da bola.
Nenhum dos dois, porém, poderia ser comparado a Jair Rosa Pinto, canhoto como Rivaldo, cerebral como Ademir, mas que, quando chegou ao Parque, no final da década de 40, escolheu um estratégico posto de observação, lá pelo meio-campo, de onde disparava lançamentos milimétricos de 20, 30 ou 40 metros.
Dali, fez a fama de Humberto Tozzi, o Disco Voador, de Aquiles, um herói de breve história, e que, mais tarde, iria para a Vila ensinar o menino Pelé as artimanhas do jogo.
Rivaldo, Ademir da Guia e Jair representam três momentos de glória desse Palmeiras que me passam pela retina. Mais para trás, apenas uma galeria de rostos na memória dos jornais e revistas esportivas: Junqueira, eternizado em bronze no Parque Antarctica, a linha média Sissi, Gasosa e Guaraná, o heróico Heitor que rompia qualquer cerco em direção ao gol inimigo, e Romeu Pelliciari, fazendo dupla com Romeuzinho no extinto Comercial da capital.
Dou essas voltas e chego ao ponto que queria: esse Palmeiras imbatível e arrasador que hoje, por um breve tempo de 90 minutos, pode deixar de sê-lo, na verdade, é apenas mais um capítulo de uma história que parece não ter fim.
*
E por que não falo do Corinthians, que hoje joga sua sorte na Libertadores, lá em Quito, contra o Espoli?
Porque no clube o encanto quebrou e a história acabou. Mas basta uma exibição de gala, e reiniciaremos: Era uma vez um mosqueteiro que queria conquistar o mundo...

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