São Paulo, quarta-feira, 1 de maio de 1996
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Médicos de acusado recebem ameaça

ROBERT MILLIKEN
DO "THE INDEPENDENT", EM HOBART

Enfermeiros e médicos do Hospital Real de Hobart vêm recebendo ameaças de morte por continuarem a tratar Martin Bryant, acusado pelo massacre de 35 pessoas nas ruínas de uma colônia penal da Tasmânia.
Bryant sofreu queimaduras nas costas no incêndio que destruiu o hotel em Port Arthur onde se refugiou com três reféns e enfrentou a polícia num cerco de 18 horas.
Na terça-feira, Bryant, 28, foi formalmente acusado pelo assassinato de Kate Scott, 21, uma das vítimas. O indiciamento ocorreu no hospital e será seguido por outros. Bryant se manteve calado durante o procedimento.
No mesmo hospital também estão internados 16 dos 19 feridos na chacina, alguns em estado grave.
Helen Gray, da associação de enfermeiros da Tasmânia, contou que seus colegas estão tendo dificuldade em conciliar seu dever profissional com seus sentimentos de ódio pelo paciente. A polícia intensificou a segurança no hospital.
Bryant nasceu na Tasmânia em maio de 1967. Seu pai era estivador. Enquanto estava no colégio ficou amigo de Helen Harvey, uma mulher de cerca de 50 anos, herdeira da Tattersalls, um império australiano do jogo.
Harvey levou-o para viver com ela em sua mansão em New Town, subúrbio de Hobart.
Segundo os vizinhos, Bryant e Harvey criavam mais de 40 cães, gatos e pássaros, além de um porco com o qual, segundo se dizia, Bryant às vezes passava a noite. De vez em quando saíam para passear de carro, levando no banco de trás um pequeno pônei.
Quando Harvey morreu em um acidente de carro, há quatro anos, deixou para Bryant imóveis e outros bens. Ele teve ferimentos no pescoço e recuperou-se.
Após a morte de Harvey seu pai se mudou para a fazenda. Cerca de um ano após a morte da mulher, o pai de Bryant desapareceu. Os vizinhos alertaram a polícia, que achou o corpo boiando numa barragem. Algumas pessoas levantaram suspeitas em relação às mortes, mas Bryant nunca foi acusado.
Na segunda-feira a polícia revistou a residência de Bryant e encontrou munição e uma arma de fogo.
Acredita-se que Bryant tenha comprado suas armas, entre as quais duas semi-automáticas de estilo militar supostamente usadas no massacre, pelo correio.
Ontem o governo da Tasmânia anunciou a proibição imediata de vendas futuras de armas militares autocarregáveis. Na semana que vem os governos federal e estaduais australianos discutirão uma legislação nova sobre porte de armas, igual para todos os Estados.

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